Equipe Williams reunida no fim da temporada 2017. O ano de 2018 será de mudanças - Foto: GPUpdate.net |
Enfim, o grid de 2018 da Fórmula 1 está completo. Única equipe que ainda não tinha anunciado sua dupla de pilotos para a temporada - somente Lance Stroll estava confirmado - a Williams finalmente declarou, na última semana, o vencedor de seu longo e arrastado processo de seleção. Trata-se do russo Sergey Sirotkin, de 22 anos, que fará sua estreia na categoria.
Sirotkin é apoiado pelo banco russo SMP e, segundo muitas informações, essa ligação foi fundamental para que ele pudesse desembarcar na Williams já que o piloto teria desembolsado, por meio desses apoiadores, uma quantia entre € 15 e 20 milhões para ficar com a vaga.
Já o polonês Robert Kubica, que tentava retornar à titularidade em uma equipe da F-1 após sete anos, foi relegado ao posto de piloto reserva e de desenvolvimento. Uma grande conquista, é verdade, se considerarmos que o polaco poderia não voltar a guiar depois de seu pavoroso acidente no Rali Ronde Di Andora.
Abaixo, aponto quatro pontos a serem observados sobre os personagens principais desta história.
Dinheiro teve papel importante na escolha?
Dinheiro é importante na Fórmula 1. Todos sabemos disso. Em um esporte que gira e gera bilhões de dólares anualmente, geralmente os times que possuem condições financeiras melhores são aqueles que conseguem manter um nível maior de competitividade. É o popular 'quem tem mais chora menos'. E por esse motivo não critico totalmente a Williams por contar com pilotos que tragam vantagens financeiras.
Obviamente, o time nega que o fator financeiro tenha sido prioridade para a escolha. Entretanto, mesmo que tomemos as declarações oficiais do time como verdade absoluta, não há como negar que o dinheiro russo também teve sua influência. Se não oferecesse nada, duvido que a contratação de Sergey Sirotkin seria concretizada.
A Williams tem tentando se reerguer desde 2014, quando iniciou uma grande reformulação e colheu bons frutos logo de cara, conquistando por dois anos seguidos (2014 e 2015) o terceiro lugar no mundial de construtores. Contudo, a escuderia tem vivenciado uma queda de performance nos últimos dois mundiais, fato que lhe tirou o posto de "melhor do resto", hoje ocupado pela Force India. E se nas pistas a situação ficou difícil, fora delas não as perspectivas não são muito melhores.
Por mais que os membros da equipe digam que dinheiro não foi preponderante na escolha de Sergey Sirotkin, verba do russo acabou tendo influência na escolha - Foto: GPUpdate.net |
Com a saída de patrocinadores importantes, o time britânico passaria a ter ainda mais dificuldades em manter a saúde financeira, bem como um bom nível de competitividade. Sendo assim, restou a Frank Williams e cia buscar alguma forma de recuperar parte dessas perdas. E uma dessas oportunidades apareceu em forma de piloto russo. Sirotkin chega por ter alguns méritos, mas também por poder contribuir monetariamente
Não dá para condenar a atitude da Williams, ainda que fosse possível recorrer a outras formas de arrecadação. O time aproveitou a oportunidade que surgiu e, pelo menos do ponto de vista das finanças, provavelmente irá conseguir uma boa estabilidade com o dinheiro que vem de terras russas e canadenses, tentando caminhar para frente, como vinha fazendo há três anos atrás.
Dupla inexperiente pode comprometer resultados
Apesar de compreender a escolha de um piloto que traz um bom aporte financeiro em detrimento de buscar no mercado um piloto, digamos, mais tarimbado, acredito que a opção feita pela Williams acaba sendo perigosa no âmbito esportivo. Afinal, dar tamanha responsabilidade a dois jovens com tão pouca experiência - e que ainda estão em um momento de formação como pilotos, pode acabar sacrificando os resultados.
Juntos, Lance Stroll e Sergey Sirotkin somam 41 anos, apenas três a mais do que o piloto de mais idade no grid (Kimi Räikkönen, 38). Algo longe do ideal, pelo menos na teoria, ainda mais se considerarmos que apenas o canadense possui vivência como piloto titular na categoria. E isso coloca a Williams em um cenário completamente diferente do que a escuderia viveu nos últimos doze anos.
Mesmo em momentos de dificuldade, após o rompimento com a BMW no ano de 2005, a escuderia de Frank Williams sempre teve pelo menos um piloto de mais "experiência" no time, acompanhado de um jovem. Tanto que as duplas de menor vivência na categoria a guiarem para a equipe inglesa foram as de 2008, formada por Nico Rosberg (indo para seu terceiro campeonato) e Kazuki Nakajima (estreante), a de 2012, composta por Pastor Maldonado (indo para sua segunda temporada) e Bruno Senna (idem) e a de 2013, novamente com o venezuelano Maldonado (caminhando para seu terceiro mundial) e Valtteri Bottas (estreante). A escolha por misturar juventude e experiência parecia ser uma política interna do time, mesmo que isso não representasse a garantia de resultados na prática.
Mesmo com a pouca experiência de ambos, Lance Stroll, de 19 anos, e Sergey Sirotkin, de 22 terão a missão de conduzir a Williams nessa temporada - Foto: GPUpdate.net |
Com a nomeação desses dois garotos para as vagas, no entanto, a Williams acaba com essa "tradição", também presente nos últimos quatro mundiais, com o experiente Felipe Massa e os jovens Valtteri Bottas e Lance Stroll, e a coloca em uma posição arriscada quanto aos resultados que podem ser atingidos ao longo do ano, pois a tendência é a de que dois pilotos de tão pouca idade e quilometragem na categoria cometam mais erros do que alguém de maior maturidade.
Não é possível afirmar com 100% de certeza que a Williams terá um ano ruim e nem que isso estará diretamente ligado aos seus pilotos. Mas optar por dois meninos que não gozam de muita rodagem na categoria tende a gerar mais problemas do que soluções. Vamos ver, no futuro, se isso se provará um acerto ou um erro.
Sirotkin e o desafio de se livrar da pecha de pagante
Sabemos que Sergey Sirotkin não foi contratado pela Williams por ser um super talento ou por ter um currículo impressionante nas categorias de base. Tendo passado por competições como a Fórmula Abarth (a única onde foi campeão), a Auto GP, a Fórmula 3, a Fórmula Renault 3.5 e a GP2 - conquistando dois terceiros lugares na classificação final em dois anos consecutivos (2015 e 2016), o grande atrativo que o jovem soviético ofereceu foi o polpudo aporte financeiro que seus apoiadores disponibilizaram. E por esse motivo, sua primeira missão na F-1 será lidar com a incômoda pecha de piloto pagante.
Incômoda porque em muitas oportunidades, esse fato é utilizado quase que como um sinônimo de piloto ruim - ainda que a história mostre que nem sempre é assim. Ainda quando jovens, muitos pilotos precisam de um empurrãozinho para que suas carreiras deslanchem. E até mesmo quando já mais consagrados, outros conseguem agregar patrocinadores que lhe abrem portas. A própria Williams já se utilizou deste expediente, nos últimos anos.
Em 2007, por exemplo, a equipe inglesa conseguiu um acordo com a Toyota para que a fábrica japonesa lhe fornecesse motores, tendo de acolher Kazuki Nakajima entre seus pilotos (inicialmente como reserva, em 2007, e posteriormente como titular, nos dois anos seguintes) como contrapartida. E o resultado disso não foi dos melhores. Quatro anos depois, em 2011, foi o venezuelano Pastor Maldonado que desembarcou em Grove, trazendo consigo alguns milhões fornecidos pela PDVSA, petrolífera estatal de seu país que o apoiou durante um longo período. E mesmo que ao longo de quatro temporadas ele não tenha conquistado muitos resultados expressivos, foi Maldonado quem levou a tradicional equipe ao alto do pódio pela última vez, no GP da Espanha de 2012.
O piloto russo também terá a missão de se livrar, ao longo de 2018, da imagem de piloto pagante - Foto: GPUpdate.net |
No caso de Sirotkin, a falta de um brilho maior na base e agora essa entrada na F-1 via apoio monetário, acabam criando rótulos que só serão apagados caso ele apresente resultados. Só que isso raramente acontece da noite para o dia, ainda mais com um estreante. Por ser um piloto em formação, será normal vermos alguns erros e más decisões de sua parte ao longo de 2018. Tudo dentro de um limite, claro, pois se não mostrar nenhuma condição de ser piloto na principal categoria do esporte a motor, ele será limado em pouco tempo. Por isso, julgá-lo como um piloto ruim após uma ou duas provas não será o mais sensato. É preciso avaliar uma série de situações, com o decorrer da temporada, para se chegar a um veredito sobre suas condições e habilidades.
Um bom termômetro para acompanhar a evolução do russo será um comparativo com seu companheiro, Lance Stroll, que já possui um ano de experiência na categoria, mesmo sendo ainda mais jovem do que ele.
Desta forma, só o tempo irá dizer se ele tem talento suficiente para permanecer na Fórmula 1 por anos, ou se ele será só mais um entre os vários pilotos que já passaram pela categoria por conta do dinheiro.
E o Kubica?
A Robert Kubica, restou o posto de piloto reserva e de desenvolvimento da Williams, algo que para ele já é um feito louvável por tudo o que passou nos últimos anos, ainda que pareça um prêmio de consolação no fim das contas.
O talento do piloto polonês sempre foi inegável e, não tivesse ele sofrido o pavoroso acidente no Rali Ronde Di Andora - que por muito pouco não foi fatal - certamente sua carreira na categoria teria sido diferente. Todavia hoje, aos 33 anos, e há sete longe da Fórmula 1, o polonês retornaria como uma incógnita.
No portal UOL, a jornalista Julianne Cerasolli trouxe um ótimo relato do que pode ter sido determinante para que a Williams não optasse por Kubica e que faz sentido: além de não dispor da verba oferecida por Sirotkin, o polonês também não teria se adaptado tão bem aos novos compostos de pneus, bem diferentes daqueles que ele utilizava em 2011.
Já Robert Kubica seguirá tentando se preparar para um retorno à categoria como titular - Foto: GPUpdate.net |
A verdade é que a Fórmula 1 mudou bastante desde que Kubica correu pela última vez em um carro da categoria. E ele também mudou, por conta de seu acidente. Portanto, é perfeitamente normal que o polaco tenha tido dificuldades com relação ao ritmo e feedback de outros pilotos. E isso fez com que fosse mais fácil para que a Williams fizesse sua escolha, optando por um piloto que além de oferecer uma quantia maior (Kubica também tinha seus patrocinadores), estava mais familiarizado com os atuais bólidos.
Agora, como piloto reserva e de desenvolvimento da Williams, Kubica terá, ao menos, oportunidades de participar de testes e, quem sabe, de treinos livres, algo que auxiliará na sua adaptação a essa nova Fórmula 1 para voltar a disputar uma vaga pensando em 2019. E espero que ele consiga bons resultados nessa empreitada, pois um piloto de seu talento poderia contribuir muito com o espetáculo.
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