Acerto de Daniel Ricciardo com a Renault surpreendeu o mundo da Fórmula 1/ Foto - Site Oficial da Red Bull Racing |
Sexta-feira, 9h da manhã. Após ligar meu computador e abrir o Google Chrome, começo a acessar os principais sites de notícia do Brasil, como faço todas as manhãs, e também o Twitter. E foi na rede social que mais utilizo que me deparei com dois nomes importantes da F-1 nos Trending Topics: Ricciardo e Renault. A associação é rápida, mas não certeira. Imaginei que o grande rumor do dia, na recém iniciada "Silly Season" da Fórmula 1, era de que o piloto australiano estaria negociando com a equipe francesa para a próxima temporada, afinal, seu vínculo com a Red Bull ainda não havia sido renovado - ainda que parecesse o caminho natural para ambos. Tal pensamento fazia sentido, uma vez que o dono do carro #3 já havia sido alvo de outras especulações.
Mas ao clicar no nome de Ricciardo nos TTs, vi que me equivoquei. O australiano não estava sendo especulado na Renault e sim sendo anunciado como novo integrante da escuderia duas vezes campeã do mundial de construtores, a partir do ano que vem. Uma notícia que pegou muita gente de surpresa.
A primeira reação a explosão de uma bomba como essas é de incredulidade. "O que será que ele está pensando?", matutei. Mas com a poeira baixando e as ideias encontrando seus lugares, começo a entender o que pode ter levado o sorridente piloto a encerrar seu casamento com a Red Bull, dez anos após assinar seu primeiro contrato com a empresa de energéticos para integrar seu programa de jovens talentos. E olha, se pensarmos friamente neste movimento, entendemos que ele faz total sentido.
Optar por deixar uma equipe estabilizada entre as três melhores da categoria na última década, saindo de sua zona de conforto, para embarcar no projeto de uma escuderia que retorna ao certame com o objetivo de se infiltrar entre as grandes, denota a coragem e a ambição do australiano. É uma espécie de sinal de que ele se considera pronto para liderar um time em busca de um título mundial. E talvez não haja um lugar melhor do que a Renault no atual grid da Fórmula 1 para tal.
Existem N motivos que podem ter influenciado a decisão de Daniel Ricciardo a aceitar tal desafio. O próprio piloto admitiu, inclusive, que essa "foi, provavelmente, uma das decisões mais difíceis da minha carreira até agora", afirmando em seguida que era hora de tentar algo diferente em sua carreira. Dessa forma, fatores como o projeto da Renault e sua evolução como equipe nos últimos anos, e até mesmo um belo acordo sobre os seus vencimentos monetários também fazem parte do pacote que podem/devem ter levado o atual quinto colocado no mundial de pilotos por esse caminho. Entretanto, acredito que exista ainda mais um ponto para essa tomada de decisão: valorização.
Aos 29 anos e contando com sete vitórias, duas pole positions e 29 pódios na categoria - além de três terceiros lugares como melhores colocações em mundiais, não há muitas dúvidas de que o australiano chega à equipe francesa com status de principal piloto a partir de 2019 - que o bom Nico Hülkenberg me perdoe, mas Daniel Ricciardo é hoje um piloto mais pronto para tal missão. Justamente o tipo de valorização a qual ele não gozaria em sua antiga casa.
Apesar de entregar resultados mais consistentes do que os de seu companheiro, o jovem e talentosíssimo Max Verstappen, a cúpula rubro-taurina sempre pareceu ter mais apreço pelo holandês do que pelo bom australiano. E isso ficou claro com a renovação do vínculo com o filho de Jos Verstappen, contrastando com a demora para o acerto de uma extensão contratual com Ricciardo. Assim, a busca por novos ares e novas oportunidades começou a fazer mais sentido.
Daniel Ricciardo e Nico Hülkenberg formarão uma boa dupla para a Renault nos próximos anos/ Foto - Reprodução |
A marca francesa, entretanto, não era a primeira opção de Ricciardo, acredito. E o acordo entre as duas partes só se deu por conta do fechamento de outras portas que eram muito mais promissoras, mas que teimaram em não se abrir. Se na Red Bull a preferência por Verstappen ficou clara a ponto de o sorridente piloto passar a buscar outras alternativas, as únicas duas equipes que poderiam oferecer uma chance real de disputa no topo ao australiano de Perth, em um curto prazo, eram a Mercedes e a Ferrari. Contudo, essas oportunidades sequer saíram do imaginário dos mais otimistas.
Se Daniel tinha alguma esperança de pilotar uma flecha de prata em 2019, elas acabaram há duas semanas, quando os alemães anunciaram as renovações dos contratos de Lewis Hamilton (até 2020) e de Valtteri Bottas (por mais um ano). Já na Ferrari, até há uma abertura de vaga em potencial (Sebastian Vettel segue com contrato e é a "Prima Donna" da escuderia), já que ninguém sabe se Kimi Räikkönen permanece ou se Charles Leclerc é promovido. E Ricciardo até foi especulado no time de Maranello, porém, nenhuma conversa séria foi engatilhada. Assim, poucas opções restaram e a Renault pareceu a melhor delas, até mesmo diante da tradicional McLaren, outra equipe a qual o nome do australiano foi vinculado, mas que vive uma fase de vacas magérrimas.
Por outro lado, a opção está longe de ser das piores. É bom ressaltar que a Renault mostrou um projeto ambicioso em sua volta à categoria, em 2016, conseguindo evoluir ano após ano. O sexto lugar no mundial de construtores de 2017 já foi bem melhor do que o nono posto conquistado em 2016. E o atual quarto lugar no atual campeonato demonstra que a evolução do projeto segue consistente. E mesmo que seja difícil acreditar que a Renault se colocará em condições de disputar o título com Mercedes e Ferrari no ano que vem ou em 2020 - o próprio piloto australiano destacou que há muito trabalho a ser feito, acredito que o desenvolvimento do time possa manter um grau que possibilite, ao menos, a briga por pódios (e quem sabe vitórias esporádicas) com essas duas escuderias e também com a Red Bull nesses anos que antecedem a próxima grande mudança de regulamento da F-1. E esse já seria um bom sinal de que a escolha de Ricciardo foi acertada.
Por outro lado, a opção está longe de ser das piores. É bom ressaltar que a Renault mostrou um projeto ambicioso em sua volta à categoria, em 2016, conseguindo evoluir ano após ano. O sexto lugar no mundial de construtores de 2017 já foi bem melhor do que o nono posto conquistado em 2016. E o atual quarto lugar no atual campeonato demonstra que a evolução do projeto segue consistente. E mesmo que seja difícil acreditar que a Renault se colocará em condições de disputar o título com Mercedes e Ferrari no ano que vem ou em 2020 - o próprio piloto australiano destacou que há muito trabalho a ser feito, acredito que o desenvolvimento do time possa manter um grau que possibilite, ao menos, a briga por pódios (e quem sabe vitórias esporádicas) com essas duas escuderias e também com a Red Bull nesses anos que antecedem a próxima grande mudança de regulamento da F-1. E esse já seria um bom sinal de que a escolha de Ricciardo foi acertada.
Nunca é demais lembrar também que a sua saída da Red Bull pode ter se dado em uma boa hora, já que a equipe tende a se tornar uma grande incógnita em 2019, quando passará a utilizar motores Honda. A fábrica japonesa vem enfrentando muitas dificuldades para se adaptar a essa era híbrida/turbo da Fórmula 1, tanto que acabou sendo enxotada da McLaren e hoje vem tentando desenvolver suas unidades de potência em parceria com a Toro Rosso para chegar em boas condições na irmã rica, a RBR. Mas se os nipônicos não conseguirem resolver essa questão, dificilmente os carros de Adrian Newey conseguirão algum tipo de sucesso, o que abre espaço justamente para quem ser alçada ao posto de terceira equipe da categoria? Para a RENAULT, desde que a esquadra mantenha seu bom nível de evolução.
Guardadas as devidas proporções, a decisão de Ricciardo se assemelha a que foi tomada por Lewis Hamilton em 2012, quando o inglês deixou uma McLaren que ainda brigava por vitórias e até por título, para embarcar no projeto da Mercedes, que já dava claros indícios de evolução. Claro que são cenários totalmente distintos. Quando Hamilton trocou a escuderia inglesa pelas flechas de prata, ele já era um campeão mundial que ia em busca de novas oportunidades (leia-se um carro que lhe pudesse dar uma chance de brigar por títulos de imediato). E a Mercedes, que já tinha dado mostras de que poderia ser esse lugar devido aos seus bons resultados - inclusive com uma vitória de Nico Rosberg no GP da China de 2012, demonstrou ser a opção ideal para isso, como conta a história.
Já Ricciardo aposta em uma Renault que sequer foi ao pódio, desde que retornou ao certame, em 2016. Ou seja, para ele esse parece ser um projeto de médio prazo, em que os resultados podem não vir imediatamente, mas onde ele poderá ter total conhecimento do que a equipe fará para dar os passos necessários para alcançar seus objetivos na busca por se impor como postulante aos títulos. E há mais um detalhe: com um contrato de dois anos, o australiano terá o poder de decidir por renovar com a marca francesa, caso veja que ela estará na briga por título, ou por buscar um novo lar, se a Renault não evoluir a ponto de lhe dar a tão sonhada chance de ser campeão mundial, bem na época em que a F-1 passará por mudanças mais significativas de regulamento.
Agora resta saber como esse movimento de Daniel Ricciardo irá afetar o atual mercado de pilotos, porque só saberemos se ele acertou ou não em sua decisão nos próximos anos.
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