Força Chapecoense, estamos contigo!


Este não é um texto sobre automobilismo. E muito menos um texto que eu gostaria de estar escrevendo. Aliás, poderia ter optado por não fazer nenhum comentário sobre este assunto, mas decidi tentar expressar o que tenho visto desde a última terça-feira, 29 de novembro de 2016.

Sim, como vocês já devem ter percebido pelo título desta postagem, aqui vai um texto sobre a Associação Chapecoense de Futebol.

Dias de tristeza


Acordei às 7h30 desta terça-feira, dia 29 de novembro de 2016, com meu celular tocando a música "Good Morning", da Norah Jones, que utilizo como despertador. E como faço habitualmente (uma mania boba, é verdade), acionei o soneca, para poder "dormir" por mais 15 minutos. Às 7h45, o dispositivo móvel voltou ao tocar. Desativei o alarme e, quando fui conferir as primeiras notícias do dia, vi a chocante e triste informação: o avião que transportava a delegação da Chapecoense para a Colômbia, onde o clube disputaria o primeiro dos dois jogos mais importantes de sua história, tinha caído com toda sua delegação, membros da imprensa esportiva brasileira e convidados diversos, além dos tripulantes que ali trabalhavam.

Não pude acreditar.

Logo, me veio um sentimento muito ruim, uma tristeza enorme, profunda. Por mais que eu não tivesse uma ligação forte com o clube catarinense, ninguém imagina que algo deste tipo vai ocorrer. É aquele tipo de situação que, quando acontece, gera uma comoção instantânea, tamanha é a surpresa.

Fiquei lá, na cama, deitado, pensando, sem forças para levantar ainda que precisasse me aprontar para trabalhar. Foram quinze minutos da mais de pura letargia. Entrei no twitter, postei algumas mensagens e, enfim, reuni forças para sair dali. Pode até parecer exagero, mas foi o que aconteceu. Não sei explicar o que aconteceu. Simples assim. E lembrando agora daqueles primeiros minutos da terça-feira, me vêm lágrimas aos olhos. É difícil...

Tomei banho, me vesti e desci até a cozinha, onde encontrei meu pai que, àquela altura, também já sabia do ocorrido. Conversamos brevemente sobre a tragédia e percebi um mix de tristeza e de susto em seu semblante. Repito: ninguém imagina acordar tendo notícias tão tristes.

No caminho para o trabalho, fui ouvindo as notícias pelo rádio do carro. E, sei lá, não tinha ânimo para mais um dia de jornada. Talvez fosse a emoção trazida por toda aquela situação dolorosa batendo forte. O clima não era bom.


Chegando na redação, comecei a visitar os sites para saber mais sobre a tragédia: quem estava no voo, se havia sobreviventes, o que poderia ter ocasionado a queda do avião, enfim, tudo o que pudesse checar sobre o episódio. Claro que naquele momento, muitas informações chegava, algumas precisas, mas a maior parte das notícias ainda era imprecisa. Porém, havia esperança, já que alguns sobreviventes tinham sido resgatados. Era muito bom saber que, apesar da situação critica, existiam possibilidades de que alguém mais se salvasse. Com o passar do tempo, entretanto, o calor da esperança deu lugar à frieza da pesada realidade, pois era cada vez mais remota a chance de  que novos tripulantes fossem encontrados com vida.

Trabalhamos em poucas pessoas aqui e todos se mostraram muito tristes com a queda do voo. E esse sentimento perdurou todo o dia. Eu mesmo, pouco consegui produzir. Por sorte, estava em dia com minhas tarefas.

O dia que não passava, longo como nossos piores pesadelos. Não havia clima para fazer nada. Chegando em casa, conversei rapidamente com minha mãe, depois com meu irmão e no fim da noite com minha namorada e o assunto foi a tragédia. E todos nós compartilhamos o mesmo sentimento. Consternação, cada um à sua maneira.

No outro dia, quarta-feira, o clima ruim ainda perdurava. Consegui me concentrar melhor e produzir o necessário para finalizar mais uma edição de nosso jornal semanal e só. Voltei pra casa, cansado, ainda triste. Só ontem e hoje consegui sentar e me concentrar um pouco mais para escrever esse texto.

Ainda é difícil digerir toda essa situação. No entanto, vamos aos poucos, não nos acostumando, não nos esquecendo, mas sim buscando formas de compreender tudo isso. Desejo que as famílias das vítimas, que a cidade de Chapecó e que todos que se sensibilizaram com esse desastre terrível unam forças para se apoiarem e superarem o momento de luto.

Ligação verde


As primeiras ligações que fiz na minha cabeça, ao ver a manchete fatídica, conectavam a Chape ao Palmeiras. E não tinha como ser diferente.

No último domingo, assisti ao jogo entre as duas equipes e comemorei muito a confirmação do título brasileiro do meu Verdão, que veio com uma vitória de 1x0 diante dos catarinenses. O jogo não foi lá essas coisas: de um lado o Palmeiras, amparado pelas combinações que lhe garantiriam o título mesmo em caso de derrota, tentava ganhar o jogo, mesmo que de forma menos incisiva do que se estivesse precisando do resultado. A Chape, por sua vez, ficava na dela, talvez mais preocupada com a viagem a Medellin, onde decidiria o título da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. No fim, vencemos, conquistamos a tão esperada taça nacional e comemoramos muito.


Já na segunda-feira, com um certo tempo livre no trabalho, decidi assistir (na verdade ouvir) o programa Resenha, da ESPN. Apresentada pelo jornalista Andre Plihal e contando com as participações dos ex-jogadores Sorin, Alex, Djalminha e Paulo Nunes - os três últimos com passagem pelo Palmeiras - a atração foi gravada na noite de domingo e recebeu o técnico Caio Jr., convidado especial daquele dia. Caio Jr. também tem passagem pelo Palestra, tendo treinado a equipe em 2007.

O programa foi bastante divertido, com o treinador contando passagens de sua carreira, especialmente na época em que atuava como atacante. Vi um Caio Jr. feliz, com o bom trabalho que realizava frente a Chape, e animado com a possibilidade de disputar uma final de torneio continental com um time considerado pequeno. Certamente, ele seria um nome estudado por diversas agremiações que precisassem de treinador para 2017, e talvez pelo próprio Palmeiras.

É duro pensar que, horas depois, a maior parte do time que vi no domingo e que o técnico que vi em um programa esportivo no dia seguinte, já não estavam mais entre nós. É surreal, algo que não tem a menor explicação. Penso, reflito e não tem como entender.

Quero deixar aqui meus sentimentos a família de todas as vítimas deste desastre, em especial a família de caio Jr., do atacante Ananias e do volante Josimar, que também passaram pelo Verdão. Tenho certeza de que durante as passagens de ambos pelo Palestra, eles nunca deixaram de dar o melhor que podiam oferecer. E é isso o que fica. Aliás, Ananias marcou o primeiro gol do Allianz Parque, jogando pelo Sport. Fica na história, com certeza.

A imprensa também chora


Infelizmente, a imprensa brasileira também acabou afetada em meio a esta tragédia.

Sou jornalista. E dentro dessa profissão, se envolver emocionalmente com as notícias não é algo que pode se tornar usual. O jornalista deve se manter impassível, somente transmitindo a informação. Sim, é até insensível dizer isso, mas é a realidade deste ofício. No entanto, nem sempre isso é possível, como vemos. Por isso imagino o quão duro deve ter sido o trabalho dos profissionais escalados para cobrir esse triste episódio, ainda mais sabendo que 21 colegas de profissão estavam envolvidos neste triste episódio. Não foram raros os momentos em que a emoção tomou conta dos repórteres. E olhando para tudo isso, creio que tais demonstrações só engrandeçam esses periodistas.

Entre as baixas, os casos mais notórios foram os dos profissionais do canal Fox Sports. Digo isso porque eram eles quem eu acompanhava mais de perto. Sempre gostei muito de acompanhar jogos que eram comentados por Paulo Julio Clement. Quando ouvia partidas pelo rádio, sempre procurava a Globo, pois lá estava Paulo Julio com seus comentários ponderados. No Fox Sports, manteve sempre a mesma postura, para mim elegante.


Victorino Chermont era outro que tinha minha admiração. Sempre presente em coberturas de campo, facilmente podíamos reconhece-lo em entrevistas ou mesmo na beira do gramado. Passava uma imagem de jornalismo sério e imparcial, algo que muito me agrada.

Já dos comentários de Mario Sergio Pontes de Paiva eu não gostava. Porém, sempre ouvi histórias contadas por meu pai sobre a habilidade que ele tinha com a bola nos pés, nos tempos de atleta. Mario Sergio foi um craque que passou por grandes clubes do país, inclusive o Palmeiras. Meia habilidoso, tinha como marca registrada os passes milimétricos, muitos deles dados sem que ele sequer olhasse para quem estava passando. Não precisava. E longe da função de comentarista, ele parecia ser um sujeito muito bacana, do tipo engraçado, sem papas na língua.

Sobre Deva Pascovicci, ele era um puta narrador. Passava um grau de emoção incrível durante as transmissões. Era, podemos assim dizer, um recém-chegado a Fox Sports. Não havia completado um ano de casa. Mas lembro que muitas pessoas comemoraram sua chegada ao canal, tamanha a admiração que muitos sentiam por ele como profissional.

Paulo, Victorino, Mario, Deva, Lilacio Pereira Jr., Rodrigo Santana, todos da Fox Sports; Guilherme Marques, Guilherme Van der Laars, Ari de Araújo Jr. e Laion Espindola, da Globo; Giovane Klein Victória, André Podiacki, Bruno Mauri da Silva e Djalma Araújo Neto, da RBS; Gelson Galiotto e Edson Luiz Ebeliny, da Rádio Super Condá; Fernando Schardong e Douglas Dorneles, da Rádio Chapecó; Jacir Biavatti, da Rádio Vang FM e da RIC TV; e Rafael Agnolin, da Rádio Oeste Capital; vocês todos serão para sempre lembrados.

E que Rafael Henzel, também da Rádio Oeste Capital e, um dos seis sobreviventes deste desastre, possa se recuperar o mais breve possível.

O mundo mostra luto. Chapecó, apoio


A tragédia que abateu todo o Brasil, se estendeu para o mundo. Várias foram as homenagens à Chapecoense ao redor do planeta. Clubes de futebol, como Torino e Manchester United, que em suas histórias possuem tragédias semelhantes a da Chape, atletas do futebol e de outros esportes e até mesmo pessoas comuns de tantos lugares, têm se sensibilizado com o difícil momento vivido por quem ficou.

Ver monumentos como o Cristo Redentor, a Torre Eiffel e o estádio de Wembley mostrando apoio à Chape, todos ostentando o verde da esperança, o verde da Chapecoense, é um justo reconhecimento. E é algo que traz um certo (e estranho) conforto, de saber que não somos apenas nós, brasileiros e compatriotas daqueles que nos deixaram, que estamos a sofrer. O mundo se abalou.


Outra menção honrosa é quanto ao que o Atlético Nacional, adversário da Chapecoense na final da Copa Sul-Americana, tem feito, por exemplo. É de uma sensibilidade ímpar a forma com que eles, e o povo colombiano em geral, têm tratado esse acontecimento. O respeito demonstrado por nossos vizinhos não tem preço e ficará pra sempre na lembrança de que tem acompanhado essa história. A celebração aos jogadores da Chapecoense feita no estádio Atanasio Girardot foi uma das cenas mais belas que vi em toda minha vida.

O povo colombiano deu uma aula de empatia e amor ao próximo. O que nos faz refletir: será que agiríamos dessa forma se a situação fosse ao contrário? Precisamos pensar mais no próximo e deixar nossas vaidades de lado. Há tanta gente que precisa de ajuda, coisas simples que não vão nos trazer nenhum tipo de ônus, mas que às vezes deixamos passar, percebendo ou não. Vale a pena uma reflexão sobre isso...

O povo de Chapecó, por sua vez, merece muitas palmas, por tudo o que tem passado e feito. A cidade e seus 250 mil habitantes vivem um momento de luto. Contudo, a força que cada um desses moradores demonstram traz esperança de que dias melhore virão.

Com certeza não é fácil para eles assistirem a partida de seus "irmãos", de pessoas que representavam e levavam o nome do município com orgulho. Mas a relação com o clube, essa vai crescer e se fortalecer. Muito. Basta ver a comoção que tomou conta da cidade e a atitude dos moradores. Muitos foram às ruas prestar sua solidariedade às famílias de jogadores e membros da comissão técnica, e demonstrar todo o carinho que sentiam pela agremiação.

É esse tipo de sentimento que irá embalar a reconstrução do clube, que irá trazer conforto à quem passa por tal situação e que resgatará a autoestima de todos. Essa tragédia nunca será esquecida, mas com toda certeza será superada.

Te apoiaremos, Chape. Agora e sempre!


Por fim, quero deixar uma mensagem ao povo de Chapecó e à Associação Chapecoense de Futebol. Estaremos aqui, amigos, apoiando vocês.


Lembrem-se neste momento de luto que vocês serão sempre apoiados. Quem puder contribuir financeiramente, irá fazê-lo. Quem puder contribuir confortando familiares e amigos das vítimas desta tragédia, irá fazê-lo. Quem puder contribuir com orações e preces para que esse momento de dor seja superado o mais breve possível, irá fazê-lo. Digo isso porque tenho certeza de que o sentimento de todo mundo neste momento é o mais positivo possível.

Espero ver a reconstrução não apenas da Chapecoense como clube, mas sim como uma grande família, unindo pessoas, unindo esforços, unindo trabalho, unindo apenas aquilo que há de bom. São em momento de dor, como esse, que muitos mostram o seu melhor. Agora, é hora de externar isso.

Saiba Chape, que aqui você não ganha um torcedor, um apoiador. Você ganha um amigo.
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