Insegurança que marcou fim de semana do GP do Brasil é espelho dos problemas vividos rotineiramente em São Paulo

Insegurança foi, infelizmente, uma das marcas do último GP do Brasil em Interlagos - Foto: Site Oficial da Fórmula 1
Enquanto a Fórmula 1 segue para Abu Dhabi, onde será realizada neste domingo a última etapa da temporada, alguns ecos sobre o Grande Prêmio do Brasil, que ocorreu há mais de uma semana, ainda causam barulho. Falo especificamente da onda de ataques e assaltos à membros de equipes, algo que se tornou o grande destaque negativo da etapa.

A essa altura dos acontecimentos, todos os fãs da Fórmula 1 sabem sobre os problemas ocorridos durante o fim de semana do GP do Brasil no tocante ao tema. Mas, mesmo correndo o risco de ser redundante e prolixo, não custa relembrar o que se passou.

Tudo começou na sexta-feira (10), primeiro dia de atividades com carros na pista e, consequentemente, primeiro dia de grande movimentação no circuito José Carlos Pace. Para muitos, esse é o dia em que realmente se inicia um fim de semana de corrida.

Com os trabalhos encerrados, integrantes de várias equipes e também da FIA, deixavam o autódromo em vans por volta das 20h quando foram abordados por homens armados que anunciaram um assalto. Alguns deles conseguiram escapar, como o pessoal da FIA, que transitava em um veículo blindado. Entretanto, os membros da Mercedes não tiveram a mesma sorte e a van que os transportava acabou sendo atacada com todos tendo seus pertences roubados.

No twitter, a principal estrela da equipe alemã, Lewis Hamilton, foi curto e em dois tweets deu alguns detalhes do que tinha ouvido sobre o incidente, desabafando a seguir que esse tipo de situação acontece TODO ANO POR AQUI! Em entrevistas para os mais variados veículos, Toto Wolff e Niki Lauda também comentaram o ocorrido.




No sábado, como não poderia deixar de ser, o clima de medo já havia se instalado no paddock, de acordo com os relatos que pude ler. Os pedidos para que o policiamento na região do autódromo fosse reforçado se intensificaram. Só que mais tarde naquele dia, outro episódio semelhante ocorreu. Pouco após deixarem Interlagos, membros da Sauber também acabaram vítimas de uma tentativa de assalto nos arredores do circuito, desta vez um pouco mais tarde, por volta das 22h.

E não acabou por aí.

Já na segunda-feira, foi a vez de Pirelli e McLaren cancelarem a bateria de testes de pneus - marcados para os dias 14 e 15 (terça e quarta-feiras), que fariam em conjunto no circuito. A alegação para a desistência, claro, foi de falta de segurança na região, que também atingiu a fábrica italiana. Uma van que levava integrantes da Pirelli sofreu uma tentativa de assalto, no domingo após a corrida. A ameaça, no entanto, acabou neutralizada pela equipe de seguranças da empresa.




Pois bem. Como não poderia deixar de ser, todos esses incidentes tiveram uma repercussão gigantesca no Brasil e no mundo. E não era para menos, já que a relevância de um evento como a Fórmula 1 tem a capacidade de amplificar qualquer notícia que o envolva.

Porém, essas infelizes situações apenas voltaram a expor algo que já é corriqueiro para quem mora ou frequenta periodicamente a principal cidade do país. A insegurança tornou-se uma constante na vida do paulistano, sendo os episódios envolvendo a Fórmula 1 apenas reflexos disso.

Desse modo, o tema segurança pública precisa ser discutido com mais veemência, não somente por conta dos riscos a continuidade do Brasil no calendário da F1, mas para o bem geral do paulistano. Essa é uma demanda URGENTE DEMAIS para ser ignorada. E o tweet abaixo, do jornalista Daniel Batista, não me deixa mentir e resume bem a situação daquela região e de muitas outras em todo o município.



O debate necessário sobre o tema segurança pública em São Paulo tem de ser bastante amplo e precisa envolver tanto acontecimentos específicos, como os casos vistos no fim de semana de GP do Brasil, quanto as ocorrências rotineiras em diversos pontos da cidade. Tudo deve ser inserido neste contexto, já que a essência do problema é a mesma - no caso a falta de iniciativas mais efetivas e planejamento para combater a insegurança em todas as esferas, em que se pese as diferenças entre a violência cotidiana e as ações mais específicas e planejadas, como os ataques registrados no entorno de Interlagos.

É preciso pensar em projetos de combate a violência diária em cada região da cidade e também em procedimentos voltados para eventos importantes, sejam eles quais forem, pois uma coisa está interligada a outra de alguma maneira. E para que tudo funcione, além de bem elaboradas, as propostas precisam ser bem executadas.

Obviamente, isso não é algo simples de se fazer. Se fosse, a situação não estaria assim. Mas nada disso é desculpa para que algo não seja feito. Os responsáveis pela maior cidade do país têm a obrigação de buscar melhorias reais nesta questão e não trabalhar somente com paliativos, procurando maquiar uma situação que é cada vez mais alarmante. É impossível que todos os problemas nesta seara sejam resolvidos e uma megalópole como São Paulo não passará a ter índices de segurança comparáveis aos de lugares muito mais desenvolvidos, por conta de uma série de fatores. Entretanto, é possível fazer mais e melhor, o que beneficiaria não apenas o cidadão, mas ajudaria a diminuir incidentes iguais aos descritos no início do texto.

Quem sabe assim poderemos ouvir ou ler comentários irônicos sobre o Brasil como o tweet abaixo, do jornalista Joe Saward, com menos frequência.


E para finalizar, voltando a falar especificamente dos problemas que envolveram a F1, sei que tais situações não são de exclusividade do Brasil. Li, inclusive, que casos semelhantes ocorreram na semana do GP mexicano, o que mostra que ninguém está livre de assaltos em qualquer parte do mundo. Mas esse cenário de medo tem se tornado tão recorrente quando a Fórmula 1 vem a São Paulo (basta lembrar do tweet que está lá no início do texto, escrito por Lewis Hamilton) que isso pesa cada vez mais contra o país, contra a cidade e contra o evento em si. 

Não vou me admirar se daqui um tempo a prova seja limada do calendário, caso essa situação persista sem as devidas soluções. O que seria uma pena pela história que o Brasil tem na categoria, para nós - fãs da categoria - e para os pilotos, que apesar de tudo, parecem gostar de correr aqui.
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