O penta de Ogier só prova o que não precisava mais ser comprovado

Mesmo com novo desafio, Sebastien Ogier conquistou seu quinto título no WRC - Foto: Site Oficial do WRC
Quando lembrarmos da temporada 2017 do WRC, daqui alguns anos, talvez a primeira memória que nos venha a cabeça será a de que este foi o campeonato mais equilibrado em um longo período. Sete pilotos e quatro marcas diferentes triunfaram nos 13 eventos disputados e o título, ao contrário dos anos anteriores, não foi definido pouco após a metade do mundial. No fim, entretanto, não houve uma mudança com relação ao campeão da temporada, apesar de termos visto uma disputa muito mais apertada, comparada aos últimos anos da categoria. Sebastien Ogier ergueu mais uma vez o caneco e provou aquilo que não precisava mais ser comprovado: ele é o melhor piloto da categoria em atividade.

Mesmo antes da conquista de seu quinto título consecutivo, já era impossível não apontar Ogier como melhor piloto do WRC na atualidade por uma série de fatores. Seu talento, sua tocada, sua consistência e o espirito de liderança que desenvolveu ao longo destes anos, contribuíram diretamente para os resultados absurdos que ele obteve, ainda que o fato de ter na Volkswagen o melhor equipamento e uma estrutura invejável facilitasse ainda mais o seu trabalho. Foram cinco anos junto da fábrica alemã, sendo quatro deles dentro do programa completo que a VW desenvolveu no mundial de ralis. E neste período, o francês foi ao pódio em 42 oportunidades, sendo 31 delas como vencedor, somando ainda 371 vitórias em especiais e contabilizando apenas dois abandonos. Tudo isso em 52 eventos. Aliás, ele só não venceu em dois países por onde guiou com a Volks: Grécia (2013) - ainda que tenha triunfado em solo grego com a Citroën, no ano de 2011 - e Argentina.

Dentro deste cenário, era impossível que não projetássemos em Ogier um piloto dominante como foi Sebastien Loeb, que entre 2004 e 2012 conquistou nove títulos seguidos pela Citroën. Bastava para o então tetracampeão permanecer por mais alguns anos como a principal estrela da montadora germânica que o sucesso estaria garantido. A VW não tinha adversários e parecia que ninguém era capaz de chegar ao mesmo nível para bater o combo piloto/equipe. Só que, no fim de 2016, veio a bomba: a VW decidiu deixar o mundial de ralis para cuidar de assuntos mais importantes, já que a fábrica alemã se enfiou em um escândalo de proporções globais.

Porém, aquilo que parecia uma chance de enfim alguém acabar com o domínio de Sebastien Ogier no WRC, acabou se tornando um atestado de que estamos diante de um dos maiores pilotos que já passou pela categoria. Mesmo sendo procurado pela Citroën e pela Toyota, equipes de fábrica que tinha condições de lhe dar uma estrutura no mínimo semelhante àquele que ele dispunha na Volkswagen, o multi-campeão optou por embarcar no projeto da M-Sport, equipe independente comandada pelo ex-piloto Malcolm Wilson. A justificativa para tal decisão era a admiração que ele nutria pelo trabalho e devoção de seu novo chefe ao esporte. E embora tal decisão tenha sido arriscada, ela acabou sendo recompensada ao fim do campeonato.

O pentacampeonato veio depois de doze etapas, e de um embate extremamente parelho principalmente com o belga Thierry Neuville, seu rival mais próximo durante o ano e que chegou a lhe tirar a liderança no mundial após o Rali de Finlândia, quando ambos empataram no número de pontos (160). Na oportunidade, o piloto da Hyundai ficou em vantagem por ter uma vitória a mais. Entretanto, na hora da decisão, Ogier fez valer seu desempenho mais sólido, mais consistente. Ainda que não tenha sido o piloto que mais venceu no ano (Sebastien triunfou apenas em Monte Carlo e em Portugal), o multi-campeão somou nove pódios e 12 chegadas entre os cinco primeiros nas 13 etapas. Falhou apenas na Finlândia, onde abandonou.

Após a conquista, piloto francês deve decidir se continua na categoria com a M-Sport ou se aposenta - Foto: Site Oficial do WRC
Me atrevo a dizer que o título de 2017 tenha sido o mais saboroso dentre os cinco que o piloto francês conquistou, justamente pelo desafio de liderar uma equipe que, ao contrário de suas grandes rivais, não possui o apoio irrestrito de uma grande montadora. Enquanto Hyundai, Toyota e Citroën gozam de programas sólidos dentro do WRC - ainda que japoneses e franceses estejam reiniciando seus trabalhos, a M-Sport sobrevive graças a essa dedicação de Malcolm Wilson, que manteve seu time mesmo depois de a Ford deixar o certame com seu time de fábrica, comandando em parceria com a própria M-Sport. E esse "gap" de investimento faz diferença.

No entanto, a presença de Ogier trouxe a evolução necessária para a M-Sport, ajudando o time a compensar esse déficit, elevando seu patamar e aproveitando ainda a introdução de uma nova regulamentação para essa temporada, fato que também contribuiu para um maior equilíbrio. Desta forma, a equipe de Malcolm Wilson passou de uma mera coadjuvante a protagonista, pelo menos neste ano, possibilitando a Ott Tanak e Elfyn Evans, os outros dois pilotos do time, a conquista de vitórias. Tanak, inclusive, fechou o campeonato em terceiro, garantindo também à M-Sport a taça no mundial de construtores.

Com o quinto título no bolso, a nova missão de Ogier é pensar em seu futuro. E mesmo que ele mesmo diga que a decisão está 99% tomada, esse 1% ainda impede qualquer anúncio oficial, que seria sobre sua permanência na M-Sport ou sua aposentadoria. Há alguns meses, notícias davam conta de que o francês teria condicionado sua permanência a um investimento maior na M-Sport, para que o desenvolvimento do carro continue. Ja a Citorën, que planejava trazer seu pupilo de volta, descartou tal possibilidade nesta semana, segundo o chefe do time, Yves Matton. O próprio site oficial do WRC traz um bom panorama da atual situação, com essas e outras questões que envolvem a decisão do pentacampeão. Para ver, basta clicar aqui.

Mas seja qual for a decisão de Sebastien Ogier com relação ao seu futuro, tem sido um privilégio poder acompanhar um dos maiores pilotos da história do WRC competindo e escrevendo uma grande história. E como fã, espero que ele permaneça abrilhantando o campeonato.
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