Quem pode parar Marc Marquez?

Duas semanas e um pouquinho se passaram desde a última postagem neste blog e muitas coisas aconteceram nesse tempo. Além do excesso de trabalho que me consumiu nos últimos dias, além de uma certa preguiça em postar algum texto novo, admito, tivemos o GP da China de F1, Indy no Alabama, Stock Car em Brasilia, uma enxurrada de Ayrton Senna na semana em que todos relembraram sua passagem ocorrida há 20 anos, várias outras categorias e duas etapas da MotoGP, a estreia da Argentina no calendário e o GP da Espanha, em Jerez de la Frontera. E é do mundial de motovelocidade que venho falar nessa volta às atividades blogueiras.

O texto de hoje não tem a ver, de forma tão direta, com as últimas duas corridas das três classes que compõem o mundial em si e sim com um personagem que vem destruindo com qualquer concorrência nesse início de jornada: o fenomenal Marc Marquez.

Em quatro provas, o atual campeão do mundo marcou quatro poles. E venceu os quatro GPs. Soma os 100 pontos possíveis e tem uma diferença de 28 para o segundo colocado no mundial, seu companheiro Dani Pedrosa. Para os rivais da Yamaha, Valentino Rossi e Jorge Lorenzo, a diferença é ainda maior: 39 e, incríveis, 65 pontos, respectivamente. Um verdadeiro atropelo na concorrência. E tal situação traz a pergunta que intitula esse texto: quem pode parar Marc Marquez?

Dani Pedrosa é o vice líder do mundial, mas já está bem distante de Marc Marquez na classificação e fica, cada vez mais, como um coadjuvante

Olhando os resultados desse quase completo primeiro quarto da temporada, aparentemente ninguém está em condições de bater de frente com o espanhol de 21 anos. A começar por seu próprio companheiro, Dani Pedrosa. Em quatro corridas, usando o mesmo equipamento utilizado por Marquez, o piloto da moto #26 foi ao pódio quatro vezes, duas em segundo e duas em terceiro. São resultados que até têm certa expressão. À título de comparação, o próprio Marquez tinha 78 pontos nesse mesmo estágio do campeonato do ano passado, do qual se sagrou campeão. O problema é que, mesmo com os bons resultados, em nenhum momento Pedrosa esboçou algum tipo de ataque, de ameaça ao jovem campeão, que tem sido perfeito até aqui. Por esse motivo, já está bem distante na classificação tendo como tendência o aumento dessa desvantagem.

Além disso, Marquez já se apossou da equipe - e não poderia ser diferente, afinal, ele é o campeão do mundo - fato que dificulta ainda mais a vida de Pedrosa. Se não houver nenhuma grande reviravolta no campeonato, Dani ficará, cada vez mais, relegado a um papel de coadjuvante.

Já para os rivais da Yamaha, única equipe que poderia lutar de igual para igual com a Honda, as coisas parecem ainda mais complicadas, já que a M1 não tem se mostrado tão competitiva quanto a RC213V. Terceiro colocado no campeonato, Valentino Rossi já está bem atrás de Marquez na classificação, ainda que o italiano multi campeão tenha conseguido melhorar sua performance em relação a 2013. O próprio Rossi admitiu que precisou adaptar sua pilotagem para se encaixar melhor com a moto e seus resultados tiveram uma sensível melhora. Já são dois pódios, com dois segundos lugares, em Losail e em Jerez. Por outro lado, há uma certa inconstância no desempenho do Doutor, quarto em Termas de Rio Hondo e oitavo em Austin. 

Situação pior vive Lorenzo, que é o quinto no mundial. O terceiro lugar na Argentina foi o único resultado digno de 'comemoração' por parte do bicampeão do mundo, que caiu em Losail, errou feio em Austin ao queimar - E MUITO - a largada, ficando em décimo, e que terminou em quarto em Jerez. O piloto da moto #99 vem tendo uma jornada bem difícil e parece não estar tão feliz com o pessoal da equipe. Tanto que já surgiram boatos de que ele até poderia mudar de time.

Dupla da Yamaha vem enfrentando problemas com a M1, menos competitiva do que a moto rival, e vem ficando cada vez mais longe de Marquez

Há ainda esperanças para o pessoal da Casa de Iwata? Talvez, caso consigam trazer melhoras significativas para a M1 o mais breve possível. Só que já é muito complicado para os dois tirarem a diferença em relação a Marquez, que é o piloto mais regular da classe rainha atualmente.

Assim sendo, volto com a pergunta que encabeça o post: quem pode parar Marc Marquez? Bem, ao meu ver, a resposta está na própria pergunta.

Por mais cedo que ainda seja para cravar que Marc irá conquistar o bicampeonato, não vejo ninguém em condições de atrapalha-lo nessa caminhada a não ser ele próprio, caso tudo se mantenha dentro do atual panorama. Marquez só não será campeão caso relaxe e se descuide muito daqui pra frente, se exagerar e se precipitar em algum momento, ou se tiver algum tipo de contratempo extra pista, situações que não acredito que acontecerão.

Digo isso baseado não apenas no formidável início de 2014 que ele vem tendo, mas também nos números que o espanhol acumulou desde sua estreia e que retratam bem os níveis de suas performances. É bom ressaltar que Marquez só deixou de pontuar duas vezes na classe, quando caiu em Mugello e quando foi desclassificado em Phillip Island por um erro da equipe. E ainda tem mais. Ele nunca terminou uma prova abaixo do terceiro lugar. São 22 corridas até aqui na classe rainha com 20 pódios, metade deles no lugar mais alto. Não há como contestar seus números, ainda que tenhamos de admitir que os resultados do ano passado aconteceram sob circunstâncias diferentes das atuais.

Em 2013, Marc chegou mostrando personalidade, apesar do noviciado, enfrentando os adversários mais experientes de igual para igual. Mas sem a pressão que os outros carregavam. Além disso, contou também com os azares de Lorenzo e Pedrosa, que fizeram provas sem estar em condições físicas ideais para tal. Soube se aproveitar muito bem disso para conquistar o título com méritos. Hoje, porém, a situação é outra, com ele já sendo um nome de muito peso na categoria e carregando muito mais responsabilidades.

Marc Marquez parece ser, a esta altura do mundial, o seu grande rival na busca pelo bi. Se conseguir manter o alto nível, deverá conquistar mais um título em 2014

Apesar disso, ele não parece sentir essa pressão, mantendo um alto grau de foco, maturidade e serenidade para alguém de sua idade e com menos experiência do que os principais adversários. Com suas já destacadas qualidades e com a moto que tem em mãos, acho improvável que ele vá ter qualquer tipo de descuido.

Obviamente, o que digo é 100% "achometro", é a impressão que tenho ao ver o comportamento do piloto dentro e fora das pistas. Nada é garantido, pois não é possível prever o futuro. Sempre há a possibilidade de haver uma relaxada ou uma exagerada aqui e outra ali que possam por muitas coisas a perder. Um acidente de corrida como aquele que teve Jorge Lorenzo no ano passado, por exemplo, pode ser suficiente para abrir a brecha que os adversários precisam. E ninguém está imune a isso. Nem mesmo um campeão mundial. O próprio Marc, treinando nas férias, quebrou a perna e perdeu sessões de testes coletivos. No fim, isso não acabou influenciando em nada. Mas se algo do tipo acontece no meio da temporada, as perdas na briga pelo título podem ser irreparáveis.

Pra mim, Marc Marquez é o seu principal rival em 2014. E se ele conseguir manter o alto nível que sempre demonstrou  durante o restante do campeonato, tem tudo para ser coroado bicampeão do mundo.

Fotos: MotoGP.com

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