Vida difícil

Criada em 2005 por Bernie Ecclestone, a GP2 é considerada hoje como o último degrau antes de um piloto chegar à F1. Prova disso é que dos 27 pilotos que correram nesse ano na principal categoria do automobilismo, 11 são oriundos da 'categoria de base', fora aqueles que já passaram pela F1. Para o tio Bernie, é quase que uma questão de honra colocar o campeão da GP2 em um carro de F1 na temporada seguinte. Só Giorgio Pantano, campeão em 2008, não teve esse privilégio, apesar de já ter tido uma chance na F1, em 2004. Mas uma coisa chama minha atenção: como é difícil a vida desses pilotos.

A F1 é um mundo completamente diferente de qualquer outra categoria. Existem interesses maiores do que muitas coisas e uma politicagem pesada. Não é fácil conseguir se manter lá sem se envolver com isso ou sem ter um apoio muito grande. Acho que o caso de Nelsinho Piquet é um ótimo exemplo disso. Tentando se garantir na Renault, teve de se curvar a uma ordem absurda e acabou longe da categoria depois que tudo veio a tona. É verdade que o piloto brasileiro fez uma grande burrada, mas no sonho de se chegar a uma equipe grande, de vencer, ser campeão, coisas como essas acabam acontecendo.

Chegar a uma equipe grande é tarefa árdua para quem vem da GP2. A exceção de Lewis Hamilton, campeão de 2006, e Heikki Kovalainen, vice em 2005, nenhum oriundo da competição conseguiu chegar lá. E só Hamilton alcançou o sucesso, sendo campeão da F1 em 2008, enquanto Kovalainen, em dois anos de McLaren, conseguiu apenas uma vitória. É bom lembrar que o inglês sempre teve apoio da Mercedes e que chegar à equipe de Woking era um caminho natural, pois talento ele sempre mostrou. E para se alcançar o nível que Hamilton alcançou, é necessário unir esses três quesitos (sorte, suporte e talento). Eles têm de andar juntos, como aconteceu com Lewis.

Para exemplificar melhor, peguemos o caso de Nico Rosberg. Campeão de 2005 da GP2, o alemão, filho de Keke Rosberg, campeão mundial em 1982, passou quatro temporadas pilotando pela Williams, que hoje é um time mediano. Conseguiu, enfim, ir para uma equipe maior (pelo menos prometia estar entre as grandes) a Mercedes, mas sequer conseguiu brigar por pódios constantemente. Isso porque Rosberg é, reconhecidamente, um piloto talentoso e teve suporte. Pode-se alegar que pilotos jovens precisem de um tempo de adaptação à F1, até chegarem a pilotar por um time de ponta, o que não é nenhum absurdo, apesar de Hamilton ter provado o contrário, brigando pelo título e acabando como vice campeão logo em sua temporada de estreia na F1. Mas pelo tempo que tem na categoria, Rosberg poderia ter conseguido algo melhor há muito tempo, até por ter mostrado bons resultados. Para mim, faltou mais sorte ao alemão.

Já Kamui Kobayashi teve sorte. Pilotou pela Toyota, equipe que lhe dava suporte, no final do ano passado, substituindo um lesionado Glock. Impressionou nas duas corridas que fez, chegando até a marcar pontos. E ai sua sorte fingiu ir embora, quando a montadora japonesa confirmou sua saída da F1. Mas o piloto conseguiu um contrato com a Sauber e foi um dos destaques da temporada. Se vai vingar, isso é outra história, porém conseguiu usufruir de seu suporte, teve sorte e mostrou talento para realizar seu sonho de chegar à F1. Ele ainda depende da sorte para chegar mais longe e só o tempo nos dirá se isso vai acontecer. Pode ser que ele tome um caminho semelhante ao de Nico, mas resultados ele já mostrou.

Como eu disse, a união de sorte, suporte e talento é importante para se chegar a um time de ponta. No entanto, o suporte, financeiro, na maioria das vezes, vem se tornando um elemento mais preponderante do que os outros dois, especialmente nas equipes pequenas.

Campeão da GP2 em 2009, Nico Hulkenberg andou pela Williams esse ano. Não fez uma temporada brilhante e acho até que poderia ter ido melhor. Mas o cara conseguiu fazer o que nenhum piloto da equipe, desde Nick Heidfeld em 2005, fez: marcou uma pole position. Foi suficiente para, pelo menos lhe garantir mais um ano de contrato? Não. Ele foi demitido da equipe de Grove, que passa por uma crise financeira. Nico não é um piloto espetacular, mas é bom, melhor do que muitos do atual grid. Porém, se recusou a buscar dinheiro para 'comprar' sua vaga. Em seu lugar, deve entrar Pastor Maldonado, campeão indiscutivel da GP2 nesse ano, mas que chega à F1 mais por causa dos euros que nele são investidos do que por seu talento. Talento esse que Nico mostrou mas que não foi suficiente.

Isso mostra que, se o cara não tem tanto dinheiro ou não faz parte de um programa de jovens pilotos, não chega à F1. Aliás, já é dificil chegar a uma categoria como a GP2 nessas condições. E casos como esse não faltam.

Nessa temporada, Bruno Senna e Karun Chandhok, que também já correram pela GP2, eram os titulares da Hispania, mas em algum momento da temporada tiveram que ceder seus lugares para Sakon Yamamoto e Christian Klien, pilotos pagantes. O indiano sequer voltou a correr depois que foi substituido. Pilotos com os bolsos cheios de euros ganham cada vez mais preferencia, mesmo que sua performance seja contestada. O dinheiro para se completar uma temporada fala mais alto.

O mundo da F1 é cruel com aqueles que não mostram resultados, principalmente com os jovens, que são descartados como um objeto sem utilidade. Entretanto, tem sido mais cruel ainda com quem é promissor mas não tem dinheiro para se bancar. Apesar de vermos um grande número de pilotos jovens no grid, está cada vez mais difícil garimpar aqueles que são talentosos, pois sempre aparece alguém mais dinheiro. E assim, muitos pilotos que poderiam alcançar alguma coisa, ficam pelo caminho. Uma pena!

Fotos: Autosport.com
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