Risco

Jackie Stewart, tricampeão mundial da F1 (1969-71-73) é uma sumidade no assunto. Sempre que o escocês pára para comentar sobre a categoria, ouvimos atentamente o que ele tem a dizer. Foi isso o que fiz nesses últimos dias. Em duas oportunidades – primeiro para o jornal inglês “Metro” e posteriormente para a “Autosport” – Stewart falou de uma questão que considero interessante: a mudança de Lewis Hamilton para a Mercedes.

Na visão do tricampeão, a decisão do piloto inglês em deixar a McLaren para embarcar no projeto alemão, foi arriscada, uma vez que a Mercedes, por ser a equipe exclusiva de uma montadora, pode deixar a categoria a qualquer momento, caso não esteja conquistando os resultados esperados, ao contrário da McLaren, que vive da F1. Uma questão que pode levantar uma boa discussão sobre a decisão e até sobre o futuro do inglês. Por isso, resolvi rascunhar umas linhas sobre isso. Acompanhe.

Sim, é um risco


Para iniciar a discussão, quero dizer que concordo com o que disse Jackie Stewart. Sim, a opção de Hamilton foi arriscada, pois não há garantias de que ele terá sucesso nessa empreitada uma vez que ele não está saindo de um time top para outro do mesmo nível e sim para uma postulante a grande equipe. E isso pode lhe fazer perder certo status.
Apesar de estar a três temporadas na F1, a Mercedes ainda é uma escuderia que busca uma cara, uma identidade, mais estruturação. E Hamilton foi contratado exatamente para isso. Sua meta é guiar o time para um caminho de vitórias, títulos, alcançando assim o patamar desejado pelos mandatários das flechas de prata. É a nova aposta germânica, assim como foi com Michael Schumacher, que deixou de lado a aposentadoria para tentar cumprir esse papel sem sucesso.

Entretanto, essa não é uma tarefa simples e, na maioria dos casos, demanda tempo. O problema é que todos esses insucessos nas pistas podem contribuir, em caso de novo fracasso, na saída da montadora.

Sabemos como as coisas funcionam na F1. Ninguém gosta de torrar dinheiro se não obtiver resultados, lucros. Por isso, se não vingar rápido, a paciência da Mercedes com o circo vai acabar e eles vão acabar se retirando do certame, como fizeram BMW, Honda e Toyota recentemente. Por mais que sejam raras as ocasiões em que um time vira vencedor de uma hora para outra, a expectativa da Mercedes é essa. Por tudo o que o time pode e já investiu.

Dessa forma, Hamilton, que tinha uma boa posição na McLaren, poderá se encontrar procurando emprego e com a imagem meio arranhada caso as coisas não caminhem como se espera, apesar de eu achar que ele é um piloto que se encaixaria rapidamente no grid, por conta de seu talento. Mercado, acredito, ele sempre terá. Mas seu status poderá não ser o mesmo, nesse caso.

Por outro lado...


... essa pode ser a chance de Lewis, enfim, amadurecer. Aliás, esse é um fator que já venho frisando há algum tempo. E com o qual Stewart parece concordar também.
Para o escocês, na entrevista ao “Metro”, a mentalidade de Hamilton esta mudando. Por isso ele aceitou o desafio. Quer crescer como piloto. E para que isso pudesse acontecer, ele tinha de cortar os laços com a McLaren, equipe que lhe acolheu desde a adolescência e por onde ele fez sua carreira na F1.

É bom lembrar que nem todos os laços, no entanto, foram extintos. Isso porque a Mercedes também teve participação em sua formação como piloto. Ele sai de um lugar conhecido para ir a outro que não lhe é totalmente estranho, o que pode facilitar sua vida e fazer com que a parceria funcione mais rapidamente.

Por essa razão, acredito que o risco se paga. É um desafio que, ao meu ver, vale a pena para Lewis. Sem contar na parte financeira, que parece ser bastante vantajosa pra ele e certamente influenciou na decisão.

Uma ressalva


Contudo, Stewart fez, na entrevista à “Autosport”, uma ressalva quanto a capacidade de Hamilton. Segundo ele, em forma, Hamilton é o mais veloz do grid. Entretanto, ele precisa desenvolver sua habilidade para fazer isso constantemente, o que não tem conseguido.
É exatamente a falta de consistência do inglês que tem sido uma pedra em seu sapato nos últimos anos. E para liderar um time que quer ser grande, Hamilton terá de desenvolver esse lado, o mais brevemente possível.

Sobre o futuro


Acho que essa experiência na Mercedes deve trazer mais pontos positivos do que negativos para Hamilton. É uma espécie de risco controlado. Trabalhando direito, ele poderá ajudar a Mercedes a ser um time postulante a vitórias e títulos, sem contar em sua evolução como piloto.

E mesmo que a parceria não dê frutos, acredito que ele continuará a ter um bom mercado na F1, podendo assumir alguma boa vaga que possa surgir, mesmo tendo de lidar com alguns questionamentos que possam surgir.

Lewis tem mais a ganhar do que perder. Basta ele se conscientizar disso e fazer um bom trabalho.

Fotos: GPUpdate.net
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