Alonso: uma vitória para lavar a alma


Quem poderia imaginar que um sujeito, mesmo que bicampeão mundial, mesmo que terceiro colocado no mundial, mesmo pilotando uma Ferrari, pudesse, ao fim de 57 voltas, vencer uma corrida disputada no insosso circuito de rua de Valência, onde ultrapassagens são improváveis? Talvez nem o próprio autor de uma façanha como essa. Contudo, Fernando Alonso conseguiu. Mostrou que é genial, o melhor piloto da atualidade, o melhor de sua geração. E lavou a alma, não apenas a sua, mas a alma de cada espanhol que torce por ele.

A Espanha não vive um bom momento político e nem social. Taxas de desemprego altíssimas, falta de perspectiva da população, economia em crise... tudo isso tem afetado a vida do povo espanhol, que tem tido poucos momentos de alegria, proporcionados, muitas vezes, pelo esporte, como lembrou Alonso ontem. Recentemente, Rafael Nadal foi campeão de Roland Garros pela sétima vez, tornando-se o maior vencedor desse Grand Slam. A seleção nacional de futebol também dá alegrias. Campeã da Euro, tenta o tri na Ucrânia e Polônia. E vai bem, estando na semifinal. Na MotoGP, Jorge Lorenzo é outro que eleva a autoestima espanhola, liderando o mundial e vencendo provas. E agora, foi Fernando Alonso.

Talvez isso explique a emocionada e emocionante comemoração do bicampeão ao vencer. Carregou a bandeira espanhola a la Senna, sai do carro, vibrou com o público, teve de ser buscado para a cerimonia do pódio, chorou, enfim, mostrou que não está alheio ao que acontece e que tem empatia pelo seu povo. Solidarizou-se com o momento de seus compatriotas. Claro que, aqueles que não gostam do espanhol, podem ter achado tudo falso, forçado. Eu não achei. Acredito que Fernando tenha sido sincero. Enfim, são opiniões.
Obviamente, vencer hoje não foi fácil para o príncipe das Astúrias. Largando em 11º, poucos acreditavam que ele poderia fazer uma grande corrida. A grande aposta era no pole, Sebastian Vettel. Também poderiam apostar no líder do mundial, Lewis Hamilton, segundo no grid. Normal. O próprio Alonso achava difícil conseguir um pódio. Sua tática era largar bem e conseguir o máximo de pontos possíveis. E na largada, mostrou que iria cumprir a estratégia. Pulou de 11ª para oitavo e pouco depois, estava em sexto. Na primeira janela de pits, mais uma posição conquistada, sobre Kimi Raïkkonen. O resultado, um quarto lugar, já era melhor do que o esperado, apesar de lhe deixar mais distante de Hamilton e Vettel no mundial.

Porém, veio um Safety Car, que mudou completamente o panorama da prova. Nos boxes, Alonso passou Hamilton, prejudicado novamente por uma parada desastrosa da McLaren. Na pista, deixou Romain Grosjean para trás na relargada. Segundo lugar fantástico. E que se tornaria primeiro poucos metros mais a frente, com Sebastian Vettel abandonando com problemas. O público ia a loucura. Mas não estava fácil. A Lótus tinha um bom ritmo de corrida e era questão de tempo a chegada do franco-suíço para uma briga com o bicampeão. Contudo, esse tempo não houve, pois Grosjean também abandonou com problemas. Com uma diferença confortável para Hamilton e Raikkönen, restou a Alonso administrar para vencer, de forma brilhante. O ferrarista é um grande campeão, pois reúne as qualidades necessárias para isso. Além de ter um talento nato, é sortudo a ponto de tudo se encaixar no momento correto. É quem tem mostrado mais merecimento da posição que ocupa até agora, pois não tem o melhor carro do grid. Alonso tem feito mágica.

Sobre a corrida de um modo geral, esse GP da Europa me surpreendeu. Positivamente. Se nas edições anteriores da prova vimos poucas brigas por posições, nesta corrida.foi diferente, especialmente por conta dos pneus e do Safety Car no meio da prova. Foi uma etapa muito boa. A segunda posição acabou com Kimi Raikkönen. O finlandês foi muito discreto durante toda a prova. Por outro lado, foi muito eficiente. Fez uma corrida burocrática, para pontuar ali, em quinto ou sexto. Mas se aproveitou dos problemas alheios para angariar mais um pódio em sua volta a F1.

Quem também chamou a atenção foram o terceiro e quarto colocados. De volta ao pódio desde o GP da China de 2006, Michael Schumacher andou muito bem hoje, com uma estratégia diferente (retardou os pits e parou só duas vezes) que compensou a má classificação - partiu de 12º - e mereceu o resultado. O alemão imprimiu um ritmo alucinante e, nos últimos giros, foi escalando o pelotão. O heptacampeão deu um bico na maré de azar, ao que parece. A exemplo de Schumi, outro que fez uma corrida exemplar foi Mark Webber. Largando em 19º, por ter tido problemas ontem, o australiano fez uma corrida discreta. Poucas vezes o vi na transmissão. Mas nas últimas voltas ele também teve uma performance forte e terminou em quarto, resultado que lhe dá a vice liderança do mundial.
Outros que merecem destaque são os pilotos da Force India. Nico Hulkenberg foi o quinto, duas posições a frente de Paul di Resta. Resultado importante para o time que não teve um bom início de ano. Mostra que tanto pilotos quanto o carro podem ter desempenhos sólidos. Perez, de 15º para nono merece menção.

Por outro lado, alguns pilotos tiveram um domingo para esquecer. Vettel, como já disse, teve problemas, quando se encaminhava para uma vitória fácil. O alemão tinha tudo para conquistar sua terceira vitória seguida nas ruas valencianas, pois fazia uma prova impecável. Em 10 voltas, já tinha aberto 11 segundos para Lewis Hamilton. Executava sua parte com maestria. Até o abandono. Sai zerado de Valência, com mais de 25 pontos de desvantagem para Alonso. Grosjean também viveu um sentimento parecido. Podia ter conquistado seu segundo pódio consecutivo, mas teve problemas. E fazia uma bela prova, com chances de vitória, inclusive.

Lewis Hamilton é outro que teve um domingo difícil. Eu já acho que ele tinha feito muito ontem, ao conquistar o segundo lugar. A primeira fila veio no braço. Hoje, de novo ele vinha levando a McLaren bem, apesar dos seguidos erros do time nos pits. Contudo, ele começou a ter problemas no fim da prova. O pneus não aguentavam mais. Perdeu o segundo posto para Raikkönen, vendendo de forma cara. E fazia o mesmo com Pastor Maldonado, até que o venezuelano, em uma manobra tola, tocou no inglês e o tirou da prova. Um lance semelhante ao de Mônaco, no ano passado, quando Hamilton tirou Maldonado da prova. Repito, Maldonado cometeu uma bobagem. Porém, Hamilton também. O que Lewis precisa entender é que, às vezes, é melhor sair de uma prova com um quarto lugar do que brigar por um terceiro com um piloto que não tem muito a perder.Sem contar que, se ele deixasse Maldonado lhe ultrapassar, esse teria de devolver a posição, pois a ultrapassagem seria por fora da pista. Hamilton foi afobado novamente, esqueceu de que um campeonato tão equilibrado se decide em detalhes. E esse detalhe pode fazer muita falta no fim.

Quanto aos brasileiros, nada a se comemorar. Ambos tiveram um domingo com três coisas iguais. Terminaram atrás de seus companheiros, fora da zona de pontuação e se envolveram em acidentes. Com o mesmo piloto, o japonês Kamui Kobayashi, outro que teve um domingo ruim. Começando por Bruno, ele fazia uma prova com estratégia diferente, parecida com a de Schumacher e Webber, o que poderia lhe render um bom resultado, como conseguiram os dois. Aliás, Senna estava a frente de ambos. Entretanto, ele acabou se envolvendo em um toque com Kobayashi após ser ultrapassado por Kimi. Kamui viu um espaço e tentou mergulhar. Bruno fechou a porta e ambos se tocaram. Senna teve um pneu furado e Koba a asa quebrada. No meu modo de entender, ambos tiveram culpa, mas foi um incidente de corrida. Os comissários não entenderam assim e puniram o brasileiro com um drive through, o que acabou com sua corrida. No fim, terminou em 11ª.
Já Felipe Massa brigava nas últimas posições da zona de pontuação e até que fazia uma apresentação correta, sem chamar atenção mas sem comprometer. Até o Safety Car. Na volta da relargada, ele deu uma espalhada e Kobayashi tentou a ultrapassagem. Otimista. O japonês acabou tocando no pneu dianteiro direito do brasileiro que furou, jogando-o para o fim do grid. Kamui abandonou. Massa terminou em 16º e já tem 100 pontos a menos que Alonso. Hoje ele não teve culpa, mas a cada prova fica mais longe do espanhol. Para constar, Kobayashi perderá cinco posições em Silverstone.

Com a vitória, Alonso voltou a liderança e quebrou a escrita de um vencedor diferente a cada prova. Agora, a F1 vai para Silverstone, ainda com muito equilíbrio. Mas Alonso vai se destacando na frente. E se não tomarem cuidado, o espanhol crava todo mundo.

Classificação final – GP da Europa

1º. Fernando Alonso (ESP/Ferrari), 57 voltas em 1h44min16s449
2º. Kimi Raikkonen (FIN/Lotus-Renault), a 6s421
3º. Michael Schumacher (ALE/Mercedes), a 12s639
4º. Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault), a 13s628
5º. Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes), a 19s993
6º.
Nico Rosberg (ALE/Mercedes), a 21s176
7º. Paul di Resta (ESC/Force India-Mercedes), a 22s886
8º. Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes), a 24s653
9º. Sergio Pérez (MEX/Sauber-Ferrari), a 27s777
10º. Pastor Maldonado (VEN/Williams-Renault), a 34s630
11º. Bruno Senna (BRA/Williams-Renault), a 35s900
12º. Daniel Ricciardo (AUS/Toro Rosso-Ferrari), a 37s000
13º. Vitaly Petrov (RUS/Caterham-Renault), a 1min15s871
14º. Heikki Kovalainen (FIN/Caterham-Renault), a 1min34s654
15º.
Charles Pic (FRA/Marussia-Cosworth), a 1min36s565
16º. Felipe Massa (BRA/Ferrari), a 1 volta
17º. Pedro de la Rosa (ESP/HRT-Cosworth), a 1 volta
18º. Narain Karthikeyan (IND/HRT-Cosworth), a 1 volta
19º. Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes), a 2 voltas

Abandonaram

Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault), na volta 41
Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault), na volta 34
Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari), na volta 34
Jean-Éric Vergne (FRA/Toro Rosso-Ferrari), na volta 27

Fotos: GPUpdate.net
Share on Google Plus

About Diego Maulana

    Blogger Comment
    Facebook Comment

0 comentários: