Coluna #ForaDasPistas - Relação cada vez mais distante

O tema desta coluna, originalmente, não seria esse. Mas às vezes vemos algumas atrocidades que não podemos deixar de comentar. Por isso, pego o texto que seria sobre o Chicago Bulls e o mando para a próxima semana e falo de um assunto que vocês já devem imaginar o que é.

Ah, o futebol. Ah, o Brasil. Essa seria a junção perfeita, não é mesmo? Aqui, terra de gênios do esporte bretão, nação conhecida mundialmente como "país do futebol", exportadora de craques, cinco vezes campeã mundial, sede da próxima Copa etc, etc, etc. É só andarmos pelas ruas para ver como o futebol faz parte da nossa cultura, de nossas raízes. Não vai demorar para vermos alguém vestido com a camisa de um clube daqui. Ou para ver grupinhos de garotos jogando bola na rua ou em terrenos baldios. Eu mesmo fiz isso muitas vezes na minha infância e adolescência. Chegava a matar aula na escola para bater minha bolinha com os amigos. Não tem como não associar a imagem do brasileiro ao futebol.

Aliás, experimente viajar à outro país e que é brasileiro. A primeira coisa que vão lhe dizer é um "Oh, Brazil, Football (ou Soccer)", provavelmente seguido de uma referencia a algum grande jogador que produzimos. Pelé, Zico, Ronaldo, Ronaldinho... depois lhe falarão de samba, carnaval, praias, festa. Mas a primeira associação que farão é ao esporte jogado com os pés. Não tenha duvidas.

Porém, sinto que o futebol tem ficado cada vez mais distante. Ou que eu tenho ficado cada vez mais distante dele, pois tem sido cada vez mais difícil achar ânimo para torcer, para acompanhar. E o que aconteceu em Joinville no último domingo ajuda a ilustrar esse desanimo.
Futebol é um lazer e torcer para um clube significa fazer festa, apoiar, cantar e acima de tudo, se divertir...
Atlético PR e Vasco jogaram na cidade a partida válida pela última rodada do Campeonato Brasileiro. Os paranaenses precisavam pelo menos empatar para ir à Libertadores. Os cariocas precisavam vencer e torcer para uma combinação de resultados lhe ajudar a escapar do rebaixamento. Jogo tenso entre duas agremiações que não se dão muito bem e que têm torcidas que se detestam. Tinha tudo para dar m... 
e deu!

O jogo aconteceu. Começou às 17h. Mas não terminou próximo das 19h, como deveria acontecer. Se estendeu até às 20h30. Isso porque vândalos (para não dizer outras dezenas de nomes muito mais feios que me vêm à cabeça) das duas torcidas iniciaram, ainda no primeiro tempo, uma batalha campal nas arquibancadas. Cenas lamentáveis, que rapidamente circularam o mundo. Destacavam mais uma barbárie no país da Copa de 2014.

A partida acabou, com vitória atleticana por 5x1. Os paranaenses vão à Libertadores. Os vascaínos amargam mais um rebaixamento. Mas nada disso importava mais. A rodada não importava. O campeonato não importava. O futebol já não importa tanto assim. Virou um simples pretexto que alguns criaram para despejar suas frustrações por aí, contra outros que têm o mesmo problema.

Felizmente, (ou infelizmente, já não sei mais o que pensar) não houve caso de óbito após a guerra que foi vista. E ainda bem (ainda bem MESMO) que não houve incidentes com pessoas inocentes. Por outro lado, um ou dois foram presos. E duvido que cumprirão algum tipo de pena. Logo estarão aí, livres da silva, prontos para aprontar mais atrocidades. 

Aliás, um dos animais que foi preso já havia sido flagrado em outra briga, entre vândalos de Vasco e Corinthians. E provavelmente será identificado em outras mais. Pois sabe que por aqui a impunidade reina absoluta. Assim como a torcida do Atlético, que teve de ir a Joinville por sua própria culpa, já que o time cumpria punição por motivo semelhante, ou os quatro criminosos que apanharam e acabaram sendo levados ao hospital - gravemente feridos mas sem correr risco de morte - também voltarão a provocar cenas como essa quando estiverem recuperados pelo mesmo motivo. Deveriam sair do hospital direto para uma cela de prisão. Mas não vai ocorrer. Não no Brasil.

O pior é ver que para muitos a vida do próximo não parece importar também. Ver pessoas tentando matar semelhantes (e quem foi para a briga tinha esse intuito SIM) só porque torcem por um time rival, porque vestem uma camisa diferente é uma barbaridade sem tamanho. É incompreensível. E inadmissível.
... não protagonizar cenas absurdas como essa. Isso não é torcer para um clube e sim praticar um ato criminoso
E olha que esse é só um dos problemas do futebol brasileiro. Existem tantos outros que também desanimam...

Quem comanda o futebol brasileiro deveria ter o mínimo de vergonha na cara e tomar alguma atitude, cobrando uma maior rigidez penal contra esses arruaceiros. Mas preferem ser coniventes. Agem como se nada disso realmente acontecesse. Ficam atrás de uma mesa, bem vestidos e sob o ar condicionado de uma sala sem dar a mínima para o que acontece. Querem saber é de ter o dinheiro deles no fim do mês, ou do status que seus cargos lhes dão. E nós, torcedores, apaixonados, pessoas de bem, que nos lixemos. Que fiquemos com um espetáculo de baixa qualidade e correndo risco de sermos retaliados só porque torcemos pelo rival de alguns malucos que possam nos encontrar na saída de um estádio ou em qualquer lugar. Não movem um músculo para procurar melhorar algo que é sinônimo de Brasil.

Ainda vou a estádios. Mas muito raramente, pois falta ânimo com tudo isso que acontece. Ainda vejo jogos do meu time pela TV, mas se não assistir, tanto faz também. É futebol, estamos realmente cada vez mais distantes. Uma pena, pois mesmo com tudo isso e muito mais, ainda gosto de você.

Fotos: AFP e Folhapress
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