Coluna #ForaDasPistas - Os campeões do Australian Open

Com as principais competições do automobilismo ainda dando suas primeiras voltas em 2014, tenho me concentrado em assistir alguns outros esportes. E para quem gosta de acompanhar outras modalidades, essas primeiras três semanas do ano foram um prato cheio. Teve de tudo um pouco. Porém, eu me concentrei bastante em ver partidas de tênis, um de meus esportes favoritos e único que posso dizer praticar com regularidade (toda sexta bato minha bolinha).

Vi alguns torneios nesses primeiros dias de 2014, muitos deles preparatórios para a grande cereja do bolo, o Australian Open, que aconteceu nas últimas duas semanas. E o primeiro Grand Slam do ano teve dois campeões inéditos: a chinesa Na Li, que conquistou o segundo major de sua carreira, e o suíço Stanislas Wawrinka, que obteve seu primeiro título em torneios deste nível. 

Abaixo, um comentário sobre ambos.

Na Li


Na chave feminina, o título do primeiro Slam da temporada ficou com a chinesa Na Li, que derrotou a eslovaca Dominika Cibulkova, grande surpresa do torneio, por 2x0 com parciais de 7/6 e 6/0. Um resultado que não chega a ser uma grande surpresa. Mas que também não era esperado. Entretanto, achei muito legal para a modalidade e para o circuito em si ver a até aqui única asiática com títulos desse porte conquistando mais um.

Se pensarmos em termos de ranking, Na Li já se colocava mesmo como uma postulante ao título. Quarta favorita em Melbourne, a chinesa deveria ter um caminho não tão sinuoso até as semifinais, onde poderia encontrar a líder do ranking Serena Williams. Aí sim, ela teria pela frente um grande desafio. E sua caminhada rumo as semis começou bem, com vitórias fáceis sobre as garotas Ana Konjuh, da Croácia, e Belinda Bencic, da Suíça. 
Contudo, foi na terceira rodada do torneio que a chinesa mostrou que poderia fazer mais dentro do Slam. Na oportunidade, ela enfrentou a tcheca Lucie Safarova e mesmo jogando muito mal em boa parte do confronto, tendo perdido o primeiro set por 1/6 e precisando salvar match points na segunda parcial, ela conseguiu encontrar forças para virar a partida e avançar às oitavas de final. Após o "susto", a chinesa parece ter alcançado um outro nível de jogo. E a partir daí, começou a atuar com mais consistência e maturidade.

Muito dessa postura tem a ver com seu novo treinador, o argentino Carlos Rodriguez, que por muito tempo treinou a ótima Justine Henin, uma das grandes jogadoras da história. A parceria entre os dois começou em 2012, quando Li dispensou Jiang Shan, seu marido, do cargo de treinador porque a pressão profissional já estava interferindo no relacionamento pessoal deles. E de lá pra cá, ela vem dando resultados, tanto que a chinesa voltou a sua melhor forma no ano passado, integrando novamente o top 5 do ranking. Rodriguez tem conseguido não apenas extrair o melhor do jogo de Li, como também parece dar mais tranquilidade à ela, fator determinante nesta conquista. Não estivesse com maturidade suficiente, certamente ela teria sucumbido ao duro jogo contra Safarova. Mas essa nova postura acabou sendo crucial para a conquista.

Voltando ao Australian Open, dali em diante, Na Li bateu a russa Ekaterina Makarova, passou pela italiana Flavia Pennetta nas quartas, e venceu a promissora Eugenie Bouchard na semifinal. E as coisas não pararam por aí. Além de melhorar no torneio, Li contou com a sorte de ver suas rivais mais perigosas, Serena Williams, Victoria Azarenka e Maria Sharapova, principais cabeças de chave do torneio, ficarem pelo caminho. Isso também ajudou muito na caminhada.
Na final, ela teve um jogo de dois sets distintos contra Cibulkova. No primeiro, a eslovaca ofereceu resistencia. Mas no segundo, foi completamente dominada pela chinesa, que mandou na partida como quis. Um título merecido e que faz Na Li ganhar moral para enfrentar suas rivais.

Com a vitória, Li voltou a ocupar o terceiro lugar no ranking da WTA, muito próxima da segunda colocada, a bielorrussa Victoria Azarenka. Apenas 11 pontos as separam. No entanto, a chinesa se vê muito longe de desafiar a americana Serena Williams pelo posto de líder do ranking. Li tem pouco mais da metade dos pontos já conquistados por Serena (13000 da americana contra 6570 da chinesa).

Stanlislas Wawrinka


Já na chave masculina, o suíço Stanislas Wawrinka surpreendeu o mundo ao bater o espanhol Rafael Nadal para conquistar o primeiro major de sua carreira. Wawrinka fez um torneio impecável, eliminando tenistas como Novak Djokovic, que defendia o título do Australian Open, e Tomas Berdych, antes de aplicar um 3x1 no terceiro maior vencedor de Slams da história, com parciais de 6/3, 6/2, 3/6 e 6/3.

Wawrinka teve um caminho bem tranquilo até as quartas de final, vencendo Andrey Golubev, Alejamdro Falla, Vasek Popisil (sem jogar) e Tommy Robredo. Foi aí que o caldo engrossou. Nas quartas, o adversário foi o campeão de 2013 e número 2 do ranking Novak Djokovic, com quem tinha feito, nesta mesma fase, uma partida épica, memorável, no ano anterior. Foram cinco sets naquela oportunidade, com o sérvio vencendo depois de cinco horas de jogo. Uma derrota que machuca bastante. E com esse "fantasma" ecoando na cabeça, que Wawrinka foi para o confronto contra Djoko. Entretanto, o suíço mostrou novamente que pode ser uma ameaça pra qualquer um. Novamente ele fez uma partida épica contra o rival, só que desta vez saiu vencedor em pouco mais de quatro horas, após longos cinco sets.
E assim como fiz na parte sobre Na Li, abro um parenteses pra falar da mudança de postura de Stan e da importância que tem seu técnico nisso, o sueco Magnus Norman. Norman é um ex-jogador, que tem final de Grand Slam e tudo na carreira (ele perdeu a decisão de Roland Garros em 2000 para o Guga). Ou seja, tem muito know how sobre o circuito. E com esses predicados, ele tem conseguido passar sua experiência ao novo pupilo. Desde que iniciou essa parceria com o sueco, Wawrinka tem não só jogado melhor tecnicamente, mas também com mais consciência. Está no auge da forma hoje. E com essa evolução em seu jogo, junto com uma melhora comportamental, têm colhido grandes resultados. 

Prova disso é a final que fez contra Nadal. Ele foi impecável no primeiro set, não dando ritmo e chances ao espanhol. O suíço foi agressivo e conseguiu se impor em momentos cruciais, tanto do seu serviço como no saque do adversário, para vencer por 6/3. Na segunda parcial, Stanislas manteve o nível e logo conseguiu quebrar o serviço de Nadal, abrindo logo 2/0. Foi aí que o jogo mudou de cara. O líder do ranking da ATP sentiu uma lesão nas costas e passou a ter seu jogo limitado, especialmente o saque, fato que acabou dando outra cara ao jogo. O suíço relaxou enquanto o espanhol lutava para se manter em quadra. Com isso, o nível da partida caiu bastante. Nadal ainda levou o terceiro set, mas Wawrinka decidiu tudo na quarta parcial.

Com a conquista, Wawrinka, além de escrever seu nome na história do tênis como vencedor de um slam, entrou em algumas estatísticas interessantes:

  • ele é apenas o terceiro tenista suíço a vencer um major em simples. Antes dele, apenas Roger Federer (17), entre os homens, e Martina Hings (5), entre as mulheres, haviam se sagrado campeões em torneios deste nível; 

  • Wawrinka também é apenas o oitavo tenista a conquistar um slam dos últimos 40 disputados. Antes dele, Roger Federer (15), Rafael Nadal (13), Novak Djokovic (6), Andy Murray (2), Marat Safin (1), Gaston Gaudio (1) e Juan Martin Del Potro (1), alcançaram tal feito;

  • com o triunfo, ele se tornou o 17º jogador diferente a vencer um major neste século (além dos outros seis citados, Andre Agassi, Gustavo Kuerten, Goran Ivanisevic, Lleyton Hewitt, Thomas Johansson, Albert Costa, Pete Sampras, Juan Carlos Ferrero e Andy Roddick tiveram seus títulos); 

  • na década, Wawrinka quebrou a hegemonia de títulos de slams que pertencia ao quarteto Federer/Nadal/Djokovic/Murray.
Ele também subiu para o terceiro lugar no ranking da ATP, sua melhor colocação na carreira, deixando para trás o amigo Roger Federer. Aliás, o resultado obtido em Melbourne faz com que ele saia da sombra do maior vencedor de Grand Slams da história e passe a almejar coisas maiores. Uma conquista e tanto para ele. 

Fotos: GoogleImages.com
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