Ontem, o jornalista Erich Beting (grande profissional por sinal) trouxe um texto interessantíssimo em seu blog, no qual compara a ascensão da popularidade do MMA (Mixed Martial Arts) no Brasil, com o declínio que sofre a F1 entre o público tupiniquim. Para quem quiser ler o texto dele (recomendo muito a leitura), é só clicar aqui.
Dito isto, aproveito que disponho deste espaço para deixar aqui os meus pitacos, a minha visão sobre esse assunto e para ressaltar também que tive um belo e agradável debate em um dos grupos sobre Formula 1 do qual faço parte no Facebook, o que me motivou ainda mais a escrever esse texto. Assim, quem não participa deste grupo no Facebook poderá saber o que penso em relação ao tema. Pois bem, vamos a ele.
Em seu texto, Beting utiliza como parâmetro uma pesquisa encomendada pelo jornal "Gazeta do Povo", na cidade de Curitiba, sobre qual esporte é o preferido entre os moradores do município. Foram entrevistadas 422 pessoas, acima dos 16 anos, que responderam que o futebol segue sendo a 'paixão nacional', seguida do vôlei. A F1 aparece em quarto lugar, empatada tecnicamente com o MMA, terceiro. Sim, a pesquisa é isolada, traçando apenas o perfil do povo curitibano. Contudo, essa parece ser uma tendência nacional. O MMA tem mesmo tomado o espaço outrora ocupado pela F1.
Como foi bem frisado por Erich, esse crescimento na preferencia do povo pelas lutas é explicado por conta da influência da TV aberta no cotidiano de grande parte da população. Como faltam pilotos brasileiros brigando pelas primeiras posições nas pistas e sobram lutadores campeões nos octógonos, é natural que o MMA passe a ter mais destaque e que os espectadores se 'afeiçoem' a essa nova opção. Fenômeno semelhante aconteceu com a F1, nos anos 1970, 80 e 90, com Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna como grandes nomes do Brasil na modalidade, que cresceu no gosto popular. E é exatamente neste ponto que gostaria de chegar. Na minha opinião, o brasileiro, em geral, não gosta de esportes e sim de ver seus 'representantes' em competições esportivas vencendo. E exemplos disso não faltam.
Senna foi o último grande personagem brasileiro na F1. Muitos deixaram de seguir a categoria depois de sua morte |
Onde é que estava o vôlei na preferência nacional, antes dessas gerações vencedoras, tanto no masculino quanto no feminino? Ninguém falava muito do esporte. E onde o basquete, que já foi considerado o segundo esporte no país, está, após tantos resultados ruins em competições como Olimpíadas, Pan Americanos e Mundiais? Poucos lembram. Tênis? Foi popular apenas na era Guga. Ginástica? Parou na Daiane dos Santos. E assim vai. Onde quer que surja uma brasileiro se destacando, surge a possibilidade da criação de um ídolo nacional. O povo brasileiro é carente disso.
Podemos dizer que por essas terras, o futebol é o único esporte que a maior parte população realmente gosta, por ser algo enraizado em nossa cultura. Mas até o esporte bretão sofre de um mal parecido. Volto a repetir: grande parte da população gosta de verdade do esporte, é apaixonada por seus clubes de coração, gostam de praticá-lo, etc. Mas sempre há a parcela dos 'torcedores de ocasião', que viram, do nada, amantes do futebol em época de Copa do Mundo e apenas quando o selecionado canarinho está vencendo ou é cotado como favorito. Acontece, fazer o quê?
Hoje, a menina dos olhos de muita gente é o MMA, com seus 'Gladiadores do Terceiro Milênio', pois lá temos Anderson Silva, José Aldo e Junior Cigano, todos campeões em suas categorias, com o primeiro sendo considerado o maior lutador de todos os tempos, sem contar que há lutadores de destaque como Vitor Belfort, Wanderlei Silva, Lyoto Machida, Mauricio Shogun, entre outros personagens de sucesso. Amanhã, pode ser até o Curling, caso o país monte uma seleção que vá ao Mundial da modalidade e ganhe.
Voltando à F1, como já foi dito, o que falta hoje para um maior interesse da massa são personagens de sucesso. Obviamente existe a parcela apaixonada pelo esporte a motor, aqueles que pesquisam, buscam notícias na internet, acompanham corridas nos horários mais absurdos, que assistem categorias que poucos conhecem, tendo brasileiros envolvidos ou não. Mas é a minoria (assim como é minoria o público que realmente gosta de outras modalidades que não seja o futebol). A maioria, por sua vez, quer ver o piloto brasileiro da F1 vencendo corridas nas manhãs de domingo, ouvir o tema da vitória por volta das 10h30. E como isso não acontece mais, a turma busca outras modalidades em que brasileiros vençam.
Sem brasileiros brigando por vitórias e pelo título, F1 tem perdido cada vez mais espaço no gosto popular |
O último grande expoente canarinho na F1, foi Ayrton Senna. Acordar cedo para ver o rapaz do capacete amarelo vencer era quase que uma religião para muitos. Mas ele se foi. E com ele se foi o interesse de muitos pelo esporte. Diziam que a F1 tinha morrido com Senna, quando na verdade ela sempre esteve aí, para quem quisesse ver, mesmo que sem um brasileiro nos primeiros lugares.
O povo tupiniquim até teve momentos de esperança ao ver Rubinho brigar pelo título na Ferrari e na Brawn GP. Porém, Barrichello acabou sendo motivo de piada, por seus vices e pelos segundos lugares que conquistava. Ser segundo por aqui até parece crime. Felipe Massa também contribuiu para que o brasileiro voltasse a se interessar por F1, em 2008, quando chegou a ser campeão por 37 segundos. Mas perdeu prestígio, especialmente depois do lamentável GP da Alemanha de 2010. Hoje, os índices de audiência da categoria na TV comprovam que há um declínio no interesse pelo esporte. Pode ser que haja outros fatores para essa queda também. Muitos acham que a F1 de hoje é chata. Mas ainda acredito que a falta de resultados expressivos de nossos pilotos é a maior causa dessa perda de prestígio.
Qual o futuro da F1 para a grande massa brasileira? Complicado de prever. Pode ser que surja um piloto por aí, que brigue por vitórias, que conquiste títulos. Mas é difícil. A tendencia é que o automobilismo perca cada vez mais espaço para outros esportes que crescem por causa de seus vencedores. E se continuar assim, a F1 ficará restrita àqueles que realmente gostam de automobilismo em espaços cada vez menores na programação televisiva.
Sintam-se a vontade para concordar, discordar, comentar...
Fotos: Abril.com.br e NextGen-Auto.com
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