Gilles: e lá se vão 30 anos


Não o vi correr. Também, pudera, nasci cinco anos após sua morte, que completa 30 anos exatamente hoje. Mas nem por isso deixo de admirá-lo. Tudo que sei sobre ele foi por meio da leitura de relatos de quem acompanhava a F1 naquela época, além de testemunhos de meu pai, um desses que sempre gostou da categoria. E do piloto em questão, o mítico Gilles Villeneuve.

Gilles nunca foi campeão mundial. Ele até teve oportunidade para isso. Foi vice-campeão em 1979. Talvez, aquele 1982 fosse o ano de sua glória maior. Correndo pela Ferrari, que muitos diziam ser o melhor carro da época, as possibilidades de título eram muito boas. Gilles era favorito ao título. Prova disso é que seu companheiro, Didier Pironi, foi vice campeão, mesmo com seis provas a menos do que o campeão Keke Rosberg, vitima de um acidente que lhe afastou definitivamente das pistas. 
Gilles Villeneuve: pra mim, ele representa a essência do automobilismo. Por isso é um mito das pistas
Aliás, foi com Pironi o seu maior desentendimento na F1, naquele 1982. Liderando a corrida em San Marino, sua última na categoria, ele foi ultrapassado pelo francês nas voltas finais, o que contrariou uma ordem de equipe para que ambos mantivessem suas posições. Gilles ficou revoltado com isso. E passou a querer superar o companheiro a qualquer custo. Porém, não houve tempo para isso. E nem para o título.

Na prova seguinte, no circuito de Zolder, na Bélgica, Gilles sofreu seu mais terrível e derradeiro acidente a bordo de um carro de F1, durante os treinos classificatórios, quando tentava superar o tempo de Pironi, pole até aquele momento. Ele tocou rodas com a March de Jochen Mass e alçou voo. Foi arremessado de sua Ferrari e só parou na rede de proteção. Socorrido, ele não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital.

Gilles não pôde alcançar seu objetivo de ser campeão mundial da F1. Ele também não pôde ver seu filho, Jacques, crescer, tornar-se piloto e ser campeão da Indy em 1995, ano em que também venceu as 500 milhas de Indianapolis, prova mais tradicional do automobilismo mundial, carregando o número 27, já imortalizado por ele na F1, e dois anos mais tarde conquistar o título mundial da F1. Mas Gilles virou um mito do esporte.
Em Fiorano, Jacques Villeneuve homenageou o pai guiando uma Ferrari 312 T4, com a qual Gilles foi vice-campeão em 1979
Claro que, quando um individuo já famoso por seus feitos morre de maneira trágica, como aconteceu com Gilles, o mesmo tende a ganhar proporções imensas. A morte potencializa a formação desses mitos. Talvez, se ele fosse campeão mundial uma, duas, três vezes, e ainda estivesse vivo, não seria tão mítico assim. Talvez fosse considerado 'apenas' um grande campeão. Talvez. Entretanto, Gilles virou mito. E não foi só por causa de sua morte prematura. Acredito que devemos creditar grande parte dessa reverencia que muitos têm pelo canadense por ele caracterizar o automobilismo em sua essência. Ele será sempre lembrado por seu arrojo, agressividade e coragem nas pistas. Por isso tem esse status.

Acho que o maior e melhor exemplo disso são aquelas voltas de intensa disputa entre ele e Rene Arnoux no GP da França de 1979. Quem viu sabe do que estou falando. E quem não viu, veja. Um momento sublime, de puro automobilismo em estado bruto, com dois pilotos se digladiando, mas de maneira leal, pelo segundo lugar naquela etapa. Não é qualquer um que faz aquilo. Uma imagem que não sai da cabeça de quem ama o esporte a motor. Creio que isso resume bem a lição deixada por Gilles para sua geração e para as gerações seguintes.

Hoje não é um dia para lembramos apenas a morte de Gilles Villeneuve. É um dia para lembramos também de seus feitos nas pistas, guiando um F1.

Salut, Gilles.

Fotos: Blog A Mil Por Hora e GPUpdate.net
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