E a Nascar também ganha seu espaço aqui no Especial "O que marcou 2012". E para falara da principal categoria do automobilismo norte-americano, o meu convidado é o amigo e palmeirense Pedro Mugarte, que também escreve no Nascar Brasil, ao lado de outros amigos deste blogueiro que vos fala. E o tema escolhido por Mugarte é o primeiro título da Penske na Sprint Cup, com o talentoso Brad Keselowski. Em seu texto, Pedro conta toda a história da equipe na categoria e o que foi preciso para que, enfim, Roger Penske pudesse alcançar o objetivo de ser campeão da Sprint. O texto é grande, mas muito bom e esclarecedor, ainda mais para quem não acompanha a Nascar tão de perto assim, como é o meu caso. Uma boa leitura a todos!
A vez da Penske, na Nascar
Demorou mas chegou. A equipe mais
famosa do automobilismo norte-americano, com 11 títulos da Indy (unificados
entre USAC e IRL), 1 vitória na F-1, 15 vitórias na Indy 500, uma Daytona 500,
que só em 2010 levantou um titulo da NASCAR, na Nationwide Series, finalmente
foi Campeã da Sprint Cup, a principal divisão da NASCAR.
Perguntava-me o que faltava à
equipe de Roger Penske na NASCAR. Talento? Profissionalismo? Atenção?
Conjunto? Equipe? Para entendermos isso, precisamos ir fundo na história da
organização na NASCAR, mesmo com a resposta já estando bem clara e visível para
todos.
Roger Penske iniciou suas atividades na
categoria em 1972, tendo como piloto Mark Donohue. Donohue estreou em
Riverside e não finalizou a prova devido a problemas mecânicos. Até 1975 a equipe fez part-time
com pilotos consagrados, além de Donohue, como os irmãos Bobby e Donnie Allison. Em 1976, ano em que o time dividia as atenções entre USAC,
F-1 e NASCAR, Bobby Allison disputou a primeira temporada completa, terminando
em quarto no campeonato, sem vitórias mas com 15 Top5 e 19 Top10 em 30 provas.
Em 1977 Roger vendeu sua estrutura para a família Elliott e encerrou as
operações na categoria. Em 1980 um breve retorno e um inicio de namoro com
Rusty Wallace, que fazia sua estréia na Sprint Cup. Apenas duas provas, um
segundo lugar em Atlanta e um décimo quarto em Charlotte. Após essas duas provas a equipe decidiu por
retirar-se definitivamente da NASCAR e se passaram longos 11 anos (vitoriosos
na Indy por sinal) até o retorno em 1991.
Após o afastamento, a equipe
voltaria a ter Rusty Wallace como piloto, mas desta vez Wallace já era
consagrado e trazia em sua bagagem um titulo da Winston Cup, conquistado em 1989
pela Blue Max Racing. Com a chegada de Rusty e o dinheiro da Miller trazido
consigo, a Penske mostrou que não entraria no negócio apenas para se aventurar
e esperava repetir o sucesso dos monopostos nos Stock Cars. O time recebeu o
nome de Penske Racing South. Rusty Wallace venceu 37 corridas na organização de
Roger, sendo vice-campeão em 1993. Sua ultima vitória foi em 2004. Na temporada
seguinte ele se aposentou mesmo após ter participado do Chase e ter finalizado
em oitavo no campeonato. Um segundo carro havia sido implantado de forma
integral na temporada de 1998, tendo Jeremy Mayfield como piloto. Mayfield fez
uma temporada expressiva, chegando a ser cotado como um dos futuros candidatos
à um titulo. 1999 não ajudou o polemico piloto, que ficou a sombra de Rusty. Em
2000 Mayfield voltou a vencer, em uma batalha épica com Dale Sr. em Pocono e
uma prova em Michigan. Entretanto, em 2001 seu desempenho não agradou e a Penske
optou por sua demissão. Mike Wallace encerrou a temporada no #12.
A essa altura a Penske já tinha
Ryan Newman como grande promessa. Em 2002 o “Rocket Man” assumiu o comando do
#12 e travou uma batalha com Jimmie Johnson pelo titulo de novato do ano.
Newman levou o troféu com 6 poles e uma vitória em New Hampshire. Em 2003, ano em
que a organização deixou os motores Ford de lado para se juntar a Dodge, o
Homem-Foguete cravou 11 poles e venceu 8
corridas, muito mais do que o campeão da temporada, Matt Kenseth, que havia
vencido apenas uma prova. Porém, acidentes e quebras complicaram as chances de
titulo de Newman que acabou terminando a temporada na sexta colocação. Newman
atingiu o ápice de sua carreira na equipe em 2008, quando já ao lado de Kurt
conquistou a Daytona 500, primeira vitória do time de Roger em uma pista onde
se faz o uso de placas restritoras. Em 2009, ele deixou a organização e migrou
para a recém fundada equipe de Tony Stewart.
Kurt Busch desembarcou no time
em 2006, após uma negociação complicada envolvendo a Roush, a Penske e a
Ganassi. Seria mais um piloto talentoso e que também carregava um troféu da então
Nextel Cup em sua maleta. Kurt foi uma excelente contratação para o time de
Roger, entretanto, seu talento lembrava o de Rusty Wallace e seu temperamento
estava mais próximo do de Jeremy Mayfield. Kurt venceu em todas as temporadas
que disputou pelo time, porém sua saída foi tão tumultuada quanto sua chegada.
Após uma discussão com um dos repórteres mais conceituados do meio, Dr. Jerry
Punch, já depois do final da temporada 2011, em Homestead, Kurt
foi demitido e AJ Allmendinger chegou para substitui-lo.
Para falarmos de Sam Hornish Jr.
temos que voltar um pouco mais no passado e ressuscitar o carro #77. No ano de 2004 a Penske se associou a
Jasper Motorsports e agregou o patrocínio da Kodak. Brendan Gaughan ficou
incumbido da missão de guiar o carro. Como não agradou muito, Travis Kvapill foi
o responsável pela temporada 2005. Mais um fracasso e a equipe ficou fechada
até 2007, quando o então campeão da IRL, Sam Hornish Jr. optou por respirar
novos ares, como haviam feito Juan Pablo Montoya e Dario Franchitti. Roger
reativou o terceiro carro e voltou a ter a Mobil ao seu lado. Sam não se adaptou,
mas mesmo assim fez 3 temporadas full time. A paciência do Capitão acabou em
2010. Sam foi enviado para a escolinha da NNS e só voltou a receber uma
oportunidade no time nesse ano. Sam tinha 3 provas agendadas no #12, disputou
uma, no Kansas, porém o caso de doping de AJ Allmendinger o colocou imediatamente
no carro #22 bem no meio da temporada. Sam não decepcionou, fez boas provas e
deve continuar a receber chances na Sprint Cup.
Vocês já devem estar se
perguntando, o porquê de tanta abobrinha se o nome em que queremos chegar é o
de Brad Keselowski. Pois bem. Tantos pilotos talentosos, tantas vitórias, uma
organização tão vitoriosa e sem titulo? Essa história começou a mudar em 2009.
Com a saída de Ryan Newman e a forçada debandada dos patrocínios telefônicos, o
time de Roger ficou mortalmente ferido. A equipe perdeu ao mesmo tempo a Alltel
e a Verizon. David Stremme comandava o #12, Sam não vinha bem no #77 e apenas
Kurt era um alento para o Capitão. Em uma manobra de muita esperteza, Roger
percebeu uma estrela um tanto quanto deixada de lado. Brad Keselowski vinha
sendo preparado para substituir Mark Martin na Hendrick, porém o velhinho vinha
dando um caldo e Brad poderia amargar longas temporadas como um part-time,
Roger não titubeou e no meio da temporada ofereceu um contrato full-time para a
jovem promessa. Keselowski não pensou duas vezes e migrou para a equipe, já
disputando as 3 ultimas etapas como piloto do carro #12.
A temporada de 2010 para
Keselowski na Sprint Cup foi frustrante, com apenas 2 Top10. Seu momento mais
marcante havia sido um acidente em Atlanta, claramente uma retaliação de Carl
Edwards pelo que havia acontecido em Talladega no ano anterior. Na contramão da
Cup, Keselowski vinha muito bem na Nationwide Series, foram 6 vitórias, 26 Top5
e 29 Top10 e o primeiro titulo da Penske Racing em uma das 3 divisões nacionais
da NASCAR. Apesar da frustração que foi a Cup, o titulo da NNS causou uma
reviravolta na equipe. A Shell desembarcou como patrocinador master da organização,
com um contrato voluptuoso, onde apoiaria um carro full-time na Cup e parcialmente
um monoposto na Indy. Com isso foram realizadas mudanças. Keselowski deixou o
#12 de lado e assumiu o #2 com a bandeira da Miller, com a ideia do
patrocinador de buscar um publico mais jovem. A Shell teria Kurt no #22 como
certeza de exibição e possíveis vitórias, o resto da história do Kurt eu já
contei.
Além de todos os fatores
positivos, como o titulo da NNS, um novo patrocinador, Keselowski tinha ao seu
lado agora na Cup o Crew Chief Paul Wolfe. Wolfe havia sido promovido após a
dupla se sagrar campeã na NNS em substituição a Jay Guy, que foi um dos
responsáveis pela péssima temporada de 2010.
A sintonia entre Brad e Paul demorou um pouco a surtir
efeito na Cup. Nas 9 primeiras etapas em 2011 Brad demonstrou um desempenho
muito próximo ao da temporada 2010, nada
melhor que um décimo oitavo lugar. Luzes começavam a piscar na equipe, até que
o dedo mágico e a palavra que quero usar para definir o porque da Penske só ter
se sagrado campeã agora entraram em ação. Em Darlington a OUSADIA de Paul Wolfe deu as caras e um terceiro lugar reascendeu
os ânimos de Keselowski. Até então não se sabia da capacidade do jovem e dos
motores Dodge de poupar combustível. Na prova seguinte em Dover um décimo
terceiro lugar, em Charlotte uma pole e no Kansas a primeira vitória do jovem
pela Penske. Paul Wolfe teve mais uma vez a chance de arriscar no combustível e dessa vez, Keselowski se colocou em situação de vencer. Como dito foi a
primeira vitória pelo time de Roger e a segunda na carreira para o piloto.
Pouco antes do meio da temporada, em um teste em Road Atlanta, Keselowski
perdeu os freios de seu carro e se chocou violentamente contra o muro. O que
para muitos poderia ser uma pausa, para Brad foi um estimulo. No final de
semana seguinte, em Pocono, Brad foi perfeito. Mesmo com o tornozelo quebrado
ele segurou Jimmie Johnson e Kyle Busch na ultima relargada para vencer. Após a
lesão Brad arrancou, com mais uma vitória na temporada, uma malandragem em
Bristol, onde conseguiu burlar os radares para sair dos pits na frente.
Keselowski se classificou para o Chase e terminou o campeonato em quinto.
Em 2012 Brad não chegou como um
azarão. O final da temporada 2011 o credenciava como um sério candidato ao
Chase e quem sabe até à disputa pelo titulo.
Brad foi impecável, 3 vitórias na temporada regular,
Bristol (0,5 milhas ),
Dega (Superspeedway) e Kentucky (1,5 milhas ). No Chase Brad começou arrasador em
Chicagoland, conseguiu um Top10 em Loudon e voltou a vencer em Dover. Um Top10
na assombrosa etapa de Talladega foi excelente para as pretensões de Brad. Um
décimo primeiro lugar em Charlotte colocou Jimmie Johnson na sua cola, a
apenas 7 pontos, distancia que foi mantida após a prova no Kansas, restavam
apenas 4 para o fim e Jimmie Johnson não se entregaria fácil. JJ venceu em
Martinsville e tomou a liderança do campeonato por 2 pontos. No Texas, uma
batalha épica com Brad Keselowski, que mais uma vez contou com uma estratégia
perfeita de Paul Wolfe, que lhe deu condições de disputar porta a porta com
Johnson a vitória. Johnson em Phoenix teria os mesmos 7 pontos de vantagem que
reverteu sobre Keselowski, porém a estrela do garoto brilhou mais forte.
Johnson acabou batendo sozinho devido ao alto desgaste dos freios, Brad não
tinha carro para vencer e a dupla não foi bem na estratégia, mas o péssimo
resultado de Johnson e um sexto lugar suado deram uma vantagem enorme para o
desembarque em Miami: 20 pontos. Pontos que não foram necessários, mesmo com a
prova burocrática e o nervosismo de todos nos trabalhos de boxes. Um problema
mecânico no #48 acabou coroando o mais novo campeão da Sprint Cup, apenas o
terceiro a garantir um titulo em apenas 3 temporadas completas. Anteriormente, apenas Dale Sr. e Jeff Gordon foram campeões antes de 4 temporadas. Brad também
se tornou o primeiro piloto a ser campeão da Sprint Cup pela mesma equipe em
que garantiu o titulo da NNS e se igualou a Bobby Labonte como os únicos
campeões das duas categorias.
Esse titulo botou fim à hegemonia
da Chevy na Sprint Cup e de cara fechou com chave de ouro à triste saída da
Dodge das competições na NASCAR. A Penske encontrou a harmonia que faltava: um
piloto talentoso, agressivo e que quase não sofre acidentes (apenas dois DNF em
duas temporadas e ambos na Daytona 500), um Crew Chief inteligente e ousado,
mecânicos que erraram pouquíssimas vezes, alem de um motor que consumia pouco e
que não quebrou por nenhuma vez com o piloto do #2 desde que ele assumiu o
carro.
A maior instituição do
Automobilismo norte-americano agora pode se orgulhar de ter em sua estante um
troféu da Sprint Cup e com essa equipe, se eu fosse o Capitão, já mandaria
aumentar o espaço porque esse parece o primeiro de muitos que virão por aí.
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