Nesta sexta-feira, o site oficial da F1 publicou uma entrevista concedida pelo chefe da McLaren, Martin Whitmarsh. E um dos principais assuntos abordados na conversa foi a decisão de Lewis Hamilton em deixar o time que lhe apoia desde os 13 anos e único pelo qual correu na categoria, para embarcar no projeto da Mercedes a partir de 2013.
Para Whitmarsh, Lewis se arrependerá em alguns momentos de sua decisão. Porém, o chefe do time de Woking diz entender que o piloto quer alçar voos mais altos, saindo do 'ninho'. Separei alguns trechos que julguei interessantes da entrevista e os reproduzo abaixo. Logo depois, tento fazer uma análise geral do assunto.
Vamos ver o que sai.
O que teria levado Hamilton a essa escolha?
Segundo Martin Whitmarsh, a única pessoa que pode responder essa questão seria o próprio Lewis Hamilton. Mas o líder da McLaren também deu seu palpite. Para ele, seu comandado gostaria de tentar ter sucesso longe da equipe que o "criou".
"Simplesmente não sei. Lewis é quem pode responder melhor do que eu. Se eu tivesse especulando, existem vários fatores e o principal, eu acho, é que sempre chega a hora em que um homem que sair do ninho. Acho que é um pouco disso e de vários outros sentimentos diferentes"
Aspecto financeiro
Para Whitmarsh, no entanto, outro aspecto que pode ter pesado na decisão de Lewis em deixar a McLaren foi o lado financeiro. De acordo com o chefe da equipe, a proposta dos alemães deve ter sido um pouco maior do que a acordada entre o piloto inglês e a McLaren. E de acordo com Whitmarsh, o que foi oferecido para ele não é pouco dinheiro.
“Fizemos uma oferta a Lewis, que acredito ser de mais dinheiro do que qualquer outro piloto recebe hoje. Isso nos faz suspeitar que o nossa rival e parceira, a Mercedes, ofereceu um pouco mais. Não sei, mas acho que Lewis tomou a decisão dele. Estou decepcionado por um lado, mas você tem que focar em seguir adiante”
Arrependimento?
Como disse acima, Whitmarsh acredita também que, em alguns momentos, Hamilton se arrepende da decisão que tomou. Porém, ele afirma que o piloto tem de arcar com a escolha e olhar pra frente.
“Acho que em alguns momentos, sim. Provavelmente, quando você toma uma decisão, você tem que dizer para si mesmo que a decisão já foi tomada e que você precisa olhar para frente. Você diz ‘está bem’, isso está no passado e não perderá tempo pensando muito sobre o motivo. Você quer apenas olhar para frente e aproveitar o máximo a nova situação”
Justificativa
Perguntado sobre o que achava sobre Lewis ter dito que a Mercedes lhe ofereceria uma grande oportunidade, Whitmarsh apenas disse que o piloto precisava justificar sua escolha.
"Ah, você tem de justificar sua escolha. Ele não dirá 'hey, me ofereceram mais dinheiro'. Ele não vai dizer que cometeu um terrível erro. Espero que ele ache hoje que cometeu um grande erro e espero que ache isso no próximo ano. Ele tomou sua decisão e terá de viver com ela. Eu o conheço desde os 11 anos e trabalho com ele desde sua adolescência e sei que estaremos muito emocionados depois do (GP do) Brasil"
Surpresa?
Martin também afirmou que ficou surpreso com a saída de Hamilton. Apesar das conversas arrastadas que teve com o piloto, na tentativa de convence-lo a permanecer no time, Whitmarsh revelou que não acreditava na saída de Lewis e que a decisão foi tomada após o GP de Cingapura, talvez motivada pelo abandono que teve, o que é considerado pelo chefe do time algo ruim. Ele também lembrou que não deu declarações sobre uma possível saída do piloto para não desestabilizar o ambiente na equipe, que ainda brigava pelo título e vivia um bom momento.
"Sendo justo, se eu tivesse dito três meses atrás que Lewis poderia sair, provavelmente teria dado várias manchetes fantásticas, mas não era do nosso interesse. Isso teria criado muitos distúrbios e pressão. Vamos falar francamente. A mídia tenta criar entretenimento por meio de nossas gafes. Imagine se eu tivesse dito que Lewis sairia. Isso teria sido imensamente desestabilizador e, honestamente, eu não achava que ele sairia. Fiquei surpreso, mas não chocado. Ele me disse logo depois de Cingapura e eu tenho certeza de que ele não tinha se decidido até então. Eu acho que é sempre ruim tomar uma decisão logo após uma corrida ruim. Ele estava certo de que venceria a corrida e foi decepcionante e, como eu disse, nunca é bom tomar uma decisão nessas circunstancias. Respeito sua decisão, mas eu acredito que ele estaria melhor conosco. Somos um time forte e queremos supera-lo no ano que vem"
O que acho disso tudo
Bem, concordo com muito do que Martin Whitmarsh disse. Sempre fui da opinião que Lewis Hamilton deveria permanecer na McLaren, se quisesse seguir lutando por títulos nos próximos anos. Escrevi, em diversas oportunidades neste espaço, que a McLaren é um time grande, estruturado, que sempre está brigando por títulos e que ele já era o piloto da casa e blá blá blá. E assim como o chefe do time, fiquei surpreso com a decisão.
Porém, entendo também, como Whitmarsh, que uma mudança de ares poderia ser muito boa para seu amadurecimento como piloto. Enfrentar dificuldades pode ser um desafio bastante interessante para um piloto que foi criado dentro de um time desde muito jovem. É como se libertar, poder andar com as próprias pernas. Na Mercedes ele terá a chance de liderar um time que, todos sabemos, tem potencial e recursos para integrar o seleto grupo das grandes escuderias da F1. Talvez Lewis possa ser útil para se alcançar esse objetivo, afinal, estamos falando de um campeão mundial e de um dos melhores pilotos do grid. É o que ambos esperam.
E ainda há o lado financeiro que, querendo ou não, é um fator que sempre pesa bastante em decisões desse tipo.
Com relação a um possível arrependimento, entendo que Hamilton possa sentir um pontinha dele no momento, o que é normal, pela ligação afetiva que ele tem com a McLaren e também por sair de um grande time para se arriscar em um outro projeto que não lhe dá certeza de sucesso. E isso tende a aumentar caso ele sofra para fazer com que a Mercedes ande na frente. Claro que Lewis não vai admitir isso. Mas, repito, isso é normal.
Contudo, se alcançar suas metas e as metas do time, no futuro o arrependimento desaparecerá. É tudo uma questão do que acontecerá mais pra frente ao meu ver. Se Lewis tiver sucesso, achará que fez a coisa certa. Se não, poderá ficar se remoendo por ter deixado a McLaren.
Enfim, é um risco que às vezes se precisa assumir para crescer.
Fotos: GPUpdate.net
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