O GP de Abu Dhabi tinha tudo para ser mais uma prova chata, a exceção de acompanharmos Sebastian Vettel escalar o grid. As provas no circuito de Yas Marina sempre foram assim. Mas hoje, surpreendentemente, vimos uma prova boa, diferente. E de tão diferente, merecia um vencedor diferente, o oitavo na temporada. Alguém com carisma, um personagem fora do usual em uma F1 cada vez mais mecanizada. E esse alguém só poderia ser Kimi Raikkönen.
Eu já imaginava ver essa temporada sem uma vitória de Kimi. A Lotus sempre teve um bom carro, desde o início do ano e figurou, em algumas corridas, como favorita a vitória. Mas essa expectativa nunca se traduziu em triunfos. E com o passar do mundial, a equipe foi ficando para trás dos rivais. Uma pena, pois em um campeonato tão equilibrado, seria bom ver outro time brigando sempre pelas primeiras posições.
Mas veio o fim de semana em Yas Marina. E a Lotus parecia ressurgir. Nos treinos livres, bons desempenhos de seus pilotos. A equipe preta e dourada tinha esperanças de conquistar um bom resultado, um pódio talvez, fazendo frente à McLaren e Red Bull. Na classificação, Kimi terminou em quinto e Grosjean em décimo, mas ambos ganharam uma posição por conta da desclassificação de Vettel.
Veio então a corrida. E logo na largada, Kimi deu mostras de que hoje era seu dia, pulando de quinto para segundo já na primeira curva. Agora, era se ligar no que Hamilton faria. Ainda nas primeiras voltas, o inglês errou e o finlandês se aproximou. Mas a McLaren era mais rápida e logo Lewis abriu nova vantagem. Veio um safety car e logo Kimi teria outra chance. Porém, Hamilton parecia inalcançável. Não parecia, Hamilton era inalcan... e, opa! A McLaren fica lenta de repente e o campeão mundial de 2008 abandona. Kimi Raikkönen assume a liderança. Para não perdê-la mais.
No momento em que foi para a ponta, o finlandês já tinha uma boa vantagem para Pastor Maldonado, o segundo naquele momento. A partir disso, foi só administrar, com direito a um "Leave me alone, I know what I'm doing", para a equipe, que teimava em lhe comunicar tudo pelo rádio. Kimi parou, voltou em primeiro, viu outro safety car a sua frente, abriu vantagem, viu Alonso tentar diminui-la nas voltas finais e cruzou a linha de chegada. Recebeu a quadriculada antes de todo mundo. Pela 19ª vez na carreira. A primeira da Lotus, desde 1987. E tudo isso sem cometer um único erro, um único deslize.
Aliás, Kimi não erra. Não tem errado no campeonato. Terminou todas as corridas e somente uma delas fora da zona de pontuação. Impressionante. E impressiona ainda mais quando abemos que ele ficou dois anos fora da F1, participando do WRC. Voltou em forma. Voltou genial. E sem dúvidas era o cara que mais merecia estar no alto do pódio nesta temporada. Hoje, ele foi magistral.
Não escondo aqui que meu piloto favorito na F1 é Lewis Hamilton. É o cara para quem mais torço. Mas existem outros dois pilotos no grid que adoro também, nada contra os outros. Kimi é um deles, ao lado de Kamui Kobayashi. Isso porque ambos trazem um ar diferente pra F1, um ar original, autêntico. São dois caras que não seguem o padrão de piloto playboyzinho. São dois personagens que não vivem nesse mundo de glamour. São eles mesmo, independente das circunstâncias. Por isso fiquei extremamente feliz com o pódio do japonês em sua corrida caseira. E por isso fico extremamente feliz com a vitória de Kimi hoje. Como seria bom seu houvesse mais Kimis e Kamuis.
Parabéns, Raikkönen, a vitória foi épica.
Alonso é segundo, e Vettel, de forma brilhante, é terceiro
Fernando Alonso deu hoje novas provas de que é genial. Novamente em um fim de semana horrível da Ferrari, o espanhol conseguiu levar esse carro ao máximo, ao pódio, a um segundo lugar. E se a prova tivesse mais cinco voltas... Largando em sexto, Alonso fez o que tinha de fazer na largada e nas primeiras voltas: foi agressivo.
Logo o bicampeão mundial estava em quarto, tendo superado Jenson Button e Mark Webber. Quando Hamilton abandonou, o asturiano pulou para terceiro e logo subiu para a vice liderança, superando Maldonado. Fernando fazia uma prova espetacular pelo carro que tinha em mãos. E começava a sonhar, porque não, com a vitória. Após sua parada, as coisas mudaram um pouco. Com pneus duros, o desempenho de sua Ferrari diminuiu e ele começou a ser assediado (ui!) por Button. Até que surgiu um safety car. Tudo embolou-se e o espanhol poderia ter sua chance de dar um pulo para a vitória.
Nada feito. Raikkönen partiu bem e abriu uma boa distância, enquanto Alonso ainda se preocupava com Button e agora com Vettel. Em dado momento, faltando cinco voltas, Alonso teve um refresco e começou a andar mais rápido do que Kimi, tirando a diferença volta a volta e marcando os melhores tempos. Tarde demais. Com a corrida controlada, o finlandês comemorou a vitória. Mas o segundo lugar para o ferrarista parecia bom, pois seu rival na luta pelo título, Sebastian Vettel largara dos pits. Ledo engano.
O que era para ser um grande resultado de Alonso, virou um resultado normal. Isso porque Sebastian Vettel foi BRILHANTE. Não importa que o alemão tenha hoje o melhor carro do grid e que teve sorte com dois safety cars entrando na pista. Vettel é um monstro.
Quem olha o resultado final, imagina que o atual bicampeão teve uma corrida só de ultrapassagens. Engana-se. Seb teve uma prova turbulenta. Largando dos boxes, ele tinha de passar boa parte do grid se quisesse alguma coisa hoje. E tentou fazer isso. Mas logo no início, um toque com Bruno Senna avariou sua asa dianteira. Nada de parada, até que entrou o primeiro safety car. E tentando aquecer os pneus, quase acertou Jean-Eric Vergne, que freou bruscamente. O susto fez com que ele acertasse uma placa, o que prejudicou ainda mais sua asa. Parou para troca-la, e aproveitou para mudar a estratégia. Tirou os pneus duros e pôs os macios. No momento, achei um erro da equipe. Mas no fim, a estratégia se mostrou acertada.
Mesmo voltando em último, Vettel escalou o pelotão. Passou muita gente, se beneficiou com a parada de outros e quando vimos, ele já era o segundo. Mas com os pneus macios, teria de parar novamente. E ele o fez, colocando um novo jogo de pneus da faixa amarela. Voltou em quarto. Tinha de caçar Button, Alonso e quem sabe Raikkönen. Nem precisou. O safety car (ele trabalhou muito hoje) entrou na pista e fez questão de juntar todos. Na relargada, Vettel atacou Button, o terceiro. Mas nada. Foram necessários alguns giros para que ele conseguisse, enfim, superar o inglês, por fora, em uma manobra ousada, que mostra sua vontade de ser tri. Não era necessário se arriscar tanto, alguns poderiam dizer.
Não deu para ir atrás de Alonso. Mas o pódio foi espetacular. E com ele, seu prejuízo perante Alonso, foi pequeno. Ele perdeu apenas três pontos em relação ao adversário. A diferença que era de 13, caiu para 10. Nada mal. Nada mal mesmo.
Vettel prova que é um grande piloto. Não é porque ele tem Adrian Newey como projetista de seu bólido. É por conta de seu talento. Poucos fariam o que ele fez hoje. Seu companheiro mesmo, não faria isso de maneira alguma. Teve sorte? Claro. mas a sorte acompanha aqueles que são competentes. E isso, o alemão é de sobra. Vai ser campeão. E será merecido.
McLaren: nova decepção
A McLaren decepcionou de novo. Lewis Hamilton tinha a vitória nas mãos, mas novamente um problema em seu carro lhe tirou o triunfo que parecia certo, assim como foi em Cingapura. Fico imaginando o que Lewis poderia fazer, com 50 pontos a mais na conta. Seria difícil ainda lutar pelo título, mas ele ainda estaria na luta pelo título.
Já Jenson Button foi o quarto. Fez uma prova regular, sem brilho, como tem sido seu ano. Fico curioso para ver como ele vai se comportar em 2013, tendo de liderar a McLaren...
O japa, os brasileiros e o restante do top 10
Poucos podem ter percebido, mas que corrida fez o MITO MOR Kamui Kobayashi. Largando em 15º, o japa da Sauber andou muito bem em Yas Marina. Logo na largada, o MITO pulou para a oitava posição e andou a corrida toda na zona de pontuação. Fez uma prova consistente pelo carro que tinha em mãos e também aproveitou os problemas que os pilotos que andavam a sua frente para terminar em sexto. Um grande resultado para ele. Uma pena que podemos não ver o arrojado e às vezes maluco, japonês em 2013 na F1.
Felipe Massa e Bruno Senna também fizeram uma prova regular, terminando em sétimo e oitavo respectivamente. O ferrarista fez uma prova OK. Vinha em sétimo na corrida até ter um entrevero com Mark Webber e rodar. Voltou fora do top10, mas beneficiado por acidentes chegou ao sétimo posto. No fim das contas, ficou bom. Já Bruno foi vitimado em um acidente logo no início da prova, caindo para o fundão. Teve um toque com Vettel e alguns probleminhas, mas andou bem, de forma constante. No fim, também foi beneficiado e terminou na zona de pontos.
Destaque também para a boa corrida de Pastor Maldonado. O venezuelano, quando larga na frente, até que vai bem. Não errou e tirou o máximo que sua Williams pôde lhe dar para finalizar a prova na quinta posição. Paul di Resta e Daniel Ricciardo completaram o top 10.
Incidentes e susto
O GP de Abu Dhabi foi repleto de incidentes. Prova disso foram as entradas do safety car, tantas vezes já mencionadas aqui. O primeiro deles foi o maior susto da prova, quando Nico Rosberg acertou a traseira de Narain Karthikeyan e voou por cima do carro do indiano. Um acidente bastante estranho. Ambos entraram em uma curva veloz, mas, de repente, a HRT de Narain ficou lenta. Sem ter muito tempo para agir, Nico acabou acertando o carro da frente, voando por cima dele e parando na barreira de pneus. O susto foi grande e o acidente poderia ter tido consequências sérias. Contudo, ainda bem que nada ocorreu.
Já Mark Webber estava em um dia de Grosjean hoje. Por três vezes o australiano se envolveu em toques. Nas duas primeiras oportunidades, ele ainda conseguiu voltar, após forçar a barra pra cima de Maldonado e Massa. Com o brasileiro, foi até pior, fazendo-o rodar em um retorno meio maluco à pista. Já na terceira, não teve jeito. Acabou sendo vitimado por um toque entre Perez e Grosjean. Lhe acertaram por trás e ele teve de abandonar. O franco-suíço também. Já o mexicano ficou na pista e depois de um stop and go, finalizou em 15º
A F1 volta daqui duas semanas, para a estreia do GP dos EUA em Asutin. Poderemos ver um campeão já nessa prova...
Resultado final
1º. Kimi Raikkonen (FIN/Lotus-Renault) 55 voltas em 1h45min58s667
2º. Fernando Alonso (ESP/Ferrari) a 0s852
3º. Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault) a 4s163
4º. Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) a 7s787
5º. Pastor Maldonado (VEN/Williams-Renault) a 13s007
6º. Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari) a 20s076
7º. Felipe Massa (BRA/Ferrari) a 22s896
8º. Bruno Senna (BRA/Williams-Renault) a 23s542
9º. Paul di Resta (ESC/Force India-Mercedes) a 24s160
10º. Daniel Ricciardo (AUS/Toro Rosso-Ferrari) a 27s400
11º. Michael Schumacher (ALE/Mercedes) a 28s000
12º. Jean-Éric Vergne (FRA/Toro Rosso-Ferrari) a 34s900
13º. Heikki Kovalainen (FIN/Caterham-Renault) a 47s700
14º. Timo Glock (ALE/Marussia-Cosworth) a 56s400
15º. Sergio Pérez (MEX/Sauber-Ferrari) a 56s700
16º. Vitaly Petrov (RUS/Caterham-Renault) a 1min04s500
17º. Pedro de la Rosa (ESP/HRT-Cosworth) a 1min11s500
Abandonaram:
Charles Pic (FRA/Marussia-Cosworth) na 43ª volta
Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault) na 38ª volta
Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault) na 38ª volta
Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes) na 20ª volta
Narain Karthikeyan (IND/HRT-Cosworth) na 8ª volta
Nico Rosberg (ALE/Mercedes) na 8ª volta
Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes) na 1ªvolta
Fotos: GPUpdate.net
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