O custo benefício do "Maníaco da Primeira Volta"


Se existe hoje no grid da F1 um piloto que causa pavor nos adversários é Romain Grosjean. E esse medo não é por conta de seus resultados e sim por ele ser um imã de confusão, aprontando algumas barbaridades em diversas provas da temporada. E o pior: ele não aprende...

No último fim de semana, Grosjean voltou a barbarizar. Em mais uma largada desastrosa, o franco-suíço acabou fazendo de Mark Webber sua nova vítima. Era a largada para o GP do Japão, e o piloto da Lótus saia da quarta posição no grid. Após a partida, Vettel manteve-se na pole enquanto Kobayashi assumiu o segundo posto. Webber caiu para terceiro e fazia a tomada da curva que antecede a seqüência de esses do circuito de Suzuka, quando foi acertado pela Lótus de Grosjean, saindo da pista. A corrida de ambos foi para o espaço. Webber, que tinha boas chances de pódio, ainda conseguiu um nono lugar. Grosjean, por sua vez, ficou a prova toda no fundo do grid e recolheu na última volta.

Depois da prova, irritado, Webber acabou chamando o jovem franco-suíço de “Maníaco da Primeira Volta”, apelido motivado pela quantidade de incidentes provocados por este em inícios de provas. E o australiano, que tem razão para ficar irado, não é o primeiro a reclamar do piloto da Lótus. Outros competidores do grid também já tiraram uma casquinha de Romain, graças as suas maluquices. Porém, um sintoma de que a situação está ficando muito ruim para o campeão da GP2 em 2011 é que o pessoal da Lótus passou a mostrar certa insatisfação, de forma pública, com sua postura.
Chefe da equipe e grande ‘padrinho’ do franco-suíço na Lótus, Eric Boullier afirmou, em entrevista à Autosport, que vem conversando com seu pupilo na esperança de ver uma mudança de atitude. Para Boullier, a postura de Grosjean ainda é a de um piloto que corre nas categorias de base e não na F1, apesar de acreditar no seu talento.

“Tenho conversado muito com ele. Mudamos a rotina, tentamos não aliviar muito porque precisávamos de um ambiente mais difícil para ele. Eu precisava incentivá-lo, mas ele é o único que pode corrigir isso. Ninguém mais”

Eric Boullier

O que essa situação passa, ao meu ver, é que a Lótus começa a se irritar com o os resultados abaixo do esperado de Grosjean, uma espécie de baixo custo benefício por conta de seus acidentes. Levando-se em consideração que esta temporada já teve 15 corridas completadas, ver um piloto causando incidentes em seis delas é um dado bastante alarmante. E a estatística piora quando este piloto tem uma corrida a menos que os rivais, justamente por ter sido suspenso. 

Até o momento, Grosjean conta com seis abandonos no ano, sendo que apenas no GP da Europa sua saída não foi motivada por acidente e sim por problemas mecânicos. Nas etapas restantes, ele deixou de completar ou ficou de fora da zona de pontuação por conta dos incidentes em que se envolve. Tudo isso sem contar também a prova da qual ficou suspenso. E colocando tudo isso na balança, percebemos que seu desempenho não é dos melhores perante aquilo que ele poderia oferecer. Explico.

Comparando-o a seu companheiro, Kimi Raikkönen, parâmetro mais utilizado nesses casos porque são dois pilotos que utilizam o mesmo carro, vemos que Grosjean é um piloto muito rápido. Tão rápido que é capaz de bater com frequência seu parceiro campeão mundial em classificações. Até agora, Grosjean largou nove vezes a frente de Kimi, com uma diferença média de 0s310, segundo as estatísticas do ótimo blog da Julianne Cerasoli no Total Race. É a prova de que Grosjean é sim um piloto que tem certo talento.
Contudo, o franco-suíço não se mostra páreo para desafiar Raikkönen, o piloto mais consistente do ano, em corridas. Em seis oportunidades o campeão mundial de 2007 terminou a frente de seu companheiro, sendo superado apenas duas vezes - não contam os abandonos. Mas nem por isso Romain deixa de ser um piloto capaz de conquistar bons resultados. Prova disso é que, das provas que terminou, apenas em uma ele não esteve na zona de pontuação. Ele ainda conquistou dois pódios, na Espanha e no Canadá. Ou seja, essa incapacidade de entregar resultados tem a ver diretamente com os incidentes provocados pelo próprio piloto do carro número 10.

Continuando a utilizar Kimi como parâmetro, vemos que o Mr. Consistência, ocupa o terceiro lugar no mundial de pilotos com 157 pontos, enquanto Grosjean é o oitavo, tendo marcado 82. Seus pontos somados dão a Lótus 239 pontos e o quarto lugar no mundial de construtores, atrás de Red Bull, McLaren e Ferrari. Um grande resultado para um time médio certo? Sim, mas poderia ser melhor se Grosjean não fosse tão tresloucado. Analisando essas etapas, por suas posições de largada, é possível imaginar que ele poderia ter uma pontuação próxima a que tem hoje Jenson Button, o que colocaria a Lótus na briga direta com a McLaren pelo segundo lugar no mundial de construtores. E essas posições significam dinheiro nos cofres do time em 2013. Está aí o baixo custo benefício. Se seus resultados fossem melhores, a Lótus poderia faturar mais no fim do ano. Sem contar que o prestigio da equipe, perante possíveis patrocinadores, aumentaria.

Claro que esse último paragrafo é apenas uma suposição, algo hipotético. Outros fatores poderiam ter contribuído para que ele não tivesse tantos pontos. Entretanto, este é um cenário que poderia existir, sem dúvidas.

Além disso, as seguidas barbeiragens de Grosjean têm atrapalhado sua imagem perante os comissários. Por ser uma figurinha carimbada entre os punidos, ele acaba ficando marcado. E isso aumenta a tendencia de que ele suas punições sejam mais severas do que outros pilotos do grid. No Japão vimos isso. Enquanto ele acabou cumprindo um "Stop And Go" pelo acidente com Webber, Bruno Senna, em um julgamento parecido, tomou um "Drive Through". Grosjean pode reclamar dessa diferença de tratamento? Até pode. Mas ele fez por merecer isso também.



Mesmo levando em consideração que essa é a primeira temporada completa de Grosjean na F1, é difícil tentar argumentar para defende-lo. Sua pilotagem agressiva em excesso nas primeiras voltas, além de prejudicar a Lótus, que perde um piloto que poderia levar pontos importantes para a equipe, por vezes acaba prejudicando outros pilotos que nada têm a ver com a história além do próprio franco-suíço, que tem um abalo em sua imagem.

Aparentemente, a vaga de Grosjean não corre risco. Ainda. Contudo, se o franco-suíço não melhorar, não adotar uma nova postura, não aprender a dosar seu ímpeto ‘maníaco’, ele poderá não ter uma carreira muito longa na F1, categoria que não costuma dar uma segunda chance a quem não aproveita...

Fotos: GPUpdate.net
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