Junqueira limado

A Indy estabelece, para as 500 milhas de Indianapolis, uma regra bastante curiosa. Durante os treinos de classificação, quem se classifica para a prova são os carros e não os pilotos. Partindo dessa premissa, uma equipe pode optar por trazer um piloto experiente, que possa classificar seu carro, garantir seu lugar no grid e substituí-lo por outro, que traga mais patrocínio, que tenha mais projeção ou que simplesmente compre sua vaga.

Vimos um caso desses em 2009, com o brasileiro Bruno Junqueira. Na época, a equipe Conquest possuia apenas um carro para a temporada, pilotado por Alex Tagliani. Para a Indy 500, o time montou um segundo carro e convidou Junqueira para pilotá-lo, imaginando que os dois estariam no grid. Porém, o canadense, que sai na pole pela Sam Schmidt nesta edição, não conseguiu se classificar, ao passo que o brasileiro sim. Porém, por ter contrato com a equipe, Tagliani foi o escolhido para correr na etapa, deixando Bruno de fora.

O episódio até gerou um novo convite a Junqueira no ano passado, para pilotar pela equipe que Tagliani tinha montado. Uma forma de se redimir pelo ano anterior. E novamente Junqueira conseguiu se classificar, dessa vez podendo correr.

Por ter um nome bem respeitado nos EUA, lá foi o brasileiro chamado novamente por uma incurssão na prova mais tradicional do automobilismo, nesse ano pela A. J. Foyt. Bruno foi bem, garantindo o 18º lugar para a equipe. Contudo, assim como aconteceu em 2009, ele não correrá. Será substituído por Ryan Hunter Reay, que não conssguiu classificar um dos carros da Andretti Autosport para a prova.

Isso mostra bem como funciona os negócios no automobilismo. Tudo gira em torno da política. De fora da edição 2011 da Indy 500, Raphael Matos falou sobre isso para o jornalista Victor Martins, que está lá em Indianapolis, cobrindo a prova pelo site Grande Prêmio. As declarações de Andretti, Foyt, Hunter Reay e Junqueira também tentam passar uma imagem de essa é uma pratica normal, de que se deve ter um senso maior de 'coletividade', de 'ajuda', de que um piloto está mal por ter de tirar a vaga de outro, de que esse outro entende etc.

O fato é que Hunter Reay não poderia ficar de fora. Tem muitos patrocinadores que pagaram para serem expostos no dia 29. Tanto é que ele levará todos os anunciantes para seu novo carro. E A. J. Foyt não poderia perder a chance de ganhar US$ 500 mil, valor pago por Michael Andretti pelo lugar, sem contar na exposição que sua equipe terá. Não pensou duas vezes.

Bruno, que foi apenas chamado para colocar o carro no grid e correr, se ninguém aparecesse para comprar a vaga, nada pôde fazer. Não tem contrato com a equipe, para correr a temporada. Não levou patrocinio de peso. Não comprou a vaga. Não tem do que reclamar. A vaga é da equipe, e o dono faz com ela o que quiser.

Fica o sentimento de frustração? Sim, claro. É a segunda vez em três anos que isso acontece com ele. Certamente ele será 'recompensado monetariamente' por isso. O ruim é que fica a imagem de que ele é um piloto para classificar carros. Quando outra equipe precisar, vão chamar aquele brasileiro que 'põe o carro no grid e vai embora'.

Não é a primeira e nem será a última vez que isso irá acontecer. Automobilismo também é negócio.

Foto: Autosport.com
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