Corridas Inesquecíveis - F1 - Estoril, 1985

No último fim de semana, Sebastian Vettel venceu o GP da China de F1, debaixo de chuva. Até ai, nada demais. Vários pilotos já venceram corridas debaixo de chuva, até mais intensas do que a que caiu sobre Xangai. Mas me impressionei muito com dois fatos: o primeiro é que essa é a segunda vitória de Vettel na F1. A primeira aconteceu em Monza, no ano passado, e em condições muito parecidas com a de domingo. O segundo fato, é a pericia com que o alemãozinho guiou. Foi o único a completar todas as voltas sem nenhum erro.

Pois bem, vocês devem estar se perguntando o que tem a ver a corrida de Portugal em 1985, com Sebastian Vettel? Não tem muita coisa, mas calma, que eu chego lá. Vamos, primeiramente, lembrar o que aconteceu em Estoril-85

A exatos vinte e quatro anos, em 21 de Abril de 1985, Ayrton Senna conseguia sua primeira vitória na F1, em Estoril, guiando a lendária e mítica Lotus preta e dourada, sob uma chuva torrencial. Ali ele estava confirmando que seria um dos maiores da categoria.

Nos bastidores, todos já sabiam do potêncial de Senna, principalmente em pista molhada, desde a corrida em Mônaco, no ano anterior. Mas a pilotagem de Ayrton em Portugal, naquele feriado de Tiradentes no Brasil, foi algo de outro mundo. Ele simplesmente passeou na pista. Enquanto isso, outros pilotos já renomados, como Alain Prost, Keke Rosberg, Niki Lauda e Nelson Piquet, sofriam para se manter na pista. É por isso que muitos consideram essa performance de Senna, sua melhor na F1.



Para se ter uma idéia da esmagadora vantagem que ele tinha para seus rivais na chuva, veja o que ele fez: Senna fez a pole, a volta mais rápida, venceu, colocou mais de um minuto de vantagem para o segundo colocado, Michele Alboreto, colocou uma volta de vantagem sobre o terceiro e o quarto colocados e duas voltas sobre o quinto e o sexto.

Nada mau hein!

Além disso, a dirigibilidade dos carros daquela época não é nada parecida com a dos atuais bólidos, muito mais macios. Some isso ao fato de ele ter o tanque cheio até a boca, pois não havia parada de boxes na época e dos carros serem mais "limpos" em sua aerodinâmica, dando menos aderência. Realmente, quem viu aquela corrida, presenciou um show de pilotagem, do Rei da Chuva, uma corrida perfeita.

Senna deu uma mostra do que o mundo veria ele fazer nos anos seguintes.

É verdade que o show de Ayrton, quase virou tragédia. Na hora de receber a bandeirada, os mecânicos da Lotus, que não vencia desde o GP da Austria em 1982, invadiram a pista para saudar o novo xodó da equipe. Emocionado e pronto para retribuir o gesto, Senna tirou o pé, para passar lentamente pelos membros da equipe. Mas o spray levantado pela Lotus dificultava a visão de quem vinha atrás e isso quase causou um acidente de grandes proporções. Mansell, que rasgava pela reta, só viu o carro preto a poucos metros do bico de sua Williams. O Leão, em uma manobra de puro reflexo, jogou-se para a esquerda e bateu na mureta de proteção, evitando a colisão com a Lotus de Ayrton. A partir daquele dia, esse tipo de comemoração foi banida da F1. Mas isso não estragou a festa.



Mas apesar da performance inesquecível, a vitória de Ayrton ficou em segundo plano naquele feriado. No mesmo dia 21, o Brasil chorava a morte de Tancredo Neves, presidente eleito, que não teve a chance de governar. Nele estavam depositadas as esperanças de um Brasil melhor, e por isso houve uma comoção nacional, que só seria superada nove anos depois, quando o próprio Senna voltou ao Brasil, morto.

Voltando a Vettel, vou explicar o que ele tem a ver com esse post. Guardada as devidas proporções, a pilotagem do alemão muito me lembrou a de Senna nesse GP. Vettel passou segurança e teve uma categoria que a tempos não via na F1. Ele não deu duas voltas no sexto ou uma no terceiro, nem abriu uma distância absurda do segundo, mas pilotou com maestria.

Enquanto Lewis Hamilton, Fernando Alonso e Kimi Raikkönen, todos campeões mundiais, sofriam para se manter no traçado, Vettel, que assim como Ayrton, também não tinha o carro mais rápido do grid, foi preciso. Até arriscou uma ultrapassagem, desnecessária sobre Jenson Button, mostrando toda sua confiança e talento. Não estou comparando os dois pilotos, pois isso é impossível. Vettel nem era nascido quando Senna venceu em Portugal. Mas é notório que o alemãozinho tem talento para andar em pista molhada. Suas duas vitórias na F1 provam isso.

Quem sabe não estejamos presenciando o nascimento de mais um especilaista em piso molhado?
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