Expectativa 2009 por Paulo Speeder

E a sessão Expectativas 2009 está de volta, e hoje, o entrevistado pelo blogueiro que vos fala é nada mais nada menos que o dono de um dos blogs que é referência quando o assunto é automobilismo. Paulo Alexandre Teixeira, o "Speeder" do blog Continental Circus é o entrevistado da semana e nos conta sobre suas expectativas para a temporada 2009 da F1.

Paulo é um português de 32 anos, nascido no Brasil. Jornalista e benfiquista, tem um olhar muito abrangente quando se fala em esporte a motor. Pode se dizer também, com toda a certeza, que foi a sessão de seu blog intitulada "Speeder Questiona" que me inspirou a criar essa sessão. Bom, vamos à entrevista.


  1. O que esperar, de uma maneira geral, da temporada 2009 da F1, com essas novas medidas como: as mudanças aerodinâmicas, a volta do pneus slick, a estréia do KERS e o período de três corridas que os motores deverão durar? Podemos esperar um ano mais competitivo?

Eventualmente, terás um campeonato tão equilibrado como o anterior, mas em muitos aspectos, as equipas vão começar do zero. Estão a testar componentes inéditos num Formula 1, e o novo pacote aerodinâmico, que fez carros feios como o burro. Tenho um amigo espanhol que chamou ao Renault R29 de “ornintorrinco”… Mas isto é a resposta aos anseios dos fãs, que querem mais ultrapassagens e não adormecer à frente da TV, como me aconteceu por algumas vezes este ano… e claro, terás sempre uma surpresa à espreita.


  1. A BMW evoluiu bastante nos últimos anos e já incomoda Ferrari e McLaren. Já a Renault parece ter encontrado novamente o caminho para se fazer bons carros. Qual dessas duas equipes tem mais chances de surpreender, caso o equilíbrio de forças se confirme? Podemos esperar também uma Toyota e os carros da Red Bull mais competitivos?

Se fossemos ver as coisas na perspectiva de 2008, apostaria mais numa BMW e numa Renault a disputar o título e a Toyota a vencer corridas. Mas agora em 2009, com o KERS, pneus slicks e o novo pacote aerodinâmico, em muitos aspectos voltou-se ao zero. É uma folha de papel em branco, e nem estes testes do Algarve tiraram qualquer conclusão, como sabes, devido à chuva. Acho mesmo que só em Melbourne é que vais ter as primeiras respostas.


  1. A Force Índia, que não pontuou no ano passado, pode brigar por seus primeiros pontos em 2009, agora com a ajuda da Mercedes?

(risos) Não. O que espero é que eles alcancem os seus primeiros pontos e que se adaptem ao novo motor Mercedes. Eventualmente, com o que se vai passar este ano, podes vê-los a brigar por um pódio, numa situação excepcional, mas mais nada.


  1. A briga interna da Ferrari promete ser intensa. Quem deverá se sair melhor: Massa ou Raikkönen?

O Kimi faz 30 anos em Outubro. Está na Formula 1 vai para a sua nona época. Ele já tem o que queria: um título mundial. Não é um piloto sedento de títulos e recordes, como o Schumacher, logo, não me admiraria que no final de 2009 que anuncie a retirada, caso seja batido de novo pelo Felipe. Logo, o Massa tem muitas chances de vencer esta briga dentro da equipa. E dedicado nos testes, tem “bons padrinhos” como o Michael Schumacher, e em 2008 amadureceu bastante. Acho que aquela derrota “em cima da linha”, pode tê-lo deixado em baixo naquele dia, mas provou a todos que com esforço e dedicação, pode ser Campeão do Mundo. Mas tem de o fazer já em 2009, porque se Raikonnen sair este ano e a Scuderia contratar o Fernando Alonso em 2010, tem de ser numa posição de força perante o espanhol, mostrar quem manda ali. Juntos na marca vai ser um “choque de titãs”, mas do estilo Senna/Prost, pois são dois egos que se chocam. Não se esqueçam do final de Nurburgring 2007, na cerimónia antes do pódio…


  1. Em 2009, Lewis Hamilton será mais ou menos pressionado do que em 2008?

Com maior ou menor pressão exterior, Lewis Hamilton vai estar pressionado na mesma. Ele tem as caracteristicas do Schumacher: um talento natural, aliado à enorme vontade de trabalhar. Ou seja: o primeiro a pressionar para que ganhe é ele mesmo, depois vem o pai, o Ron Dennis e o Martin Withmarsh, os engenheiros, os mecânicos, os outros. Tem toda a equipa à sua volta. Logo, se ganhar, ganha a equipa, se perder, perde a equipa.


  1. Algum piloto já sai na frente na briga pelo título mundial?

Honestamente, não. Os testes nunca reflectem o que acontecerá em plena corrida. Vou contar uma história: no inicio de 1992, surgiu o Ferrari F1A92, que era “revolucionário” por muitos, e tinha estado em testes por todo o lado: (Jerez, Estoril, Imola, Mugello, etc) sempre no topo da tabela de tempos. Todos diziam que iria lutar pelo título, mas depois foi esmagado pelo Williams FW14. Os tempos dos testes podem enganar-te, porque não sabes as condições em que apareceram aqueles tempos: se foi com o depósito vazio, se foi abaixo dos quilos regulamentares, se…


  1. A F1 está ficando cada vez mais jovem. Lewis Hamilton com duas temporadas e 23 anos conquistou um vice campeonato e um título. Fernando Alonso, no auge de seus 25 anos já era bicampeão. Sebastian Vettel venceu pela primeira vez aos 21 anos. E agora Sébastien Buemi estreará aos 20, fora outros pilotos jovens como Nelsinho Piquet, Adrian Sutil, Robert Kubica, Nico Rosberg e Heikki Kovalainen, que se mostram competitivos. Na sua opinião, qual o principal fator para o sucesso desses jovens na F1 atual, visto que até pouco tempo atrás a maioria dos um piloto de ponta só tinha a chance de conquistar seu primeiro título perto da casa dos 30 anos?

É tudo uma questão de mentalidade. Agora, ser jovem e talentoso é mais importante do que ser velho e experiente. Dou-te o exemplo do futebol. Aos 35 anos já querem que o jogador se retire. Ver Paolo Maldini a jogar como titular, no Milan, aios 41 anos, já é para o “freak show”. Sendo a Formula 1 uma categoria hipermediática como é, querem “bebés” na grelha, desde que sejam talentosos e ambiciosos, porque vende. E o melhor exemplo que tens neste momento é o Giorgio Pantano, o campeão da GP2 em 2008. Tem 29, quase 30 anos. Ninguém o quer na Formula 1, porque é “velho”, e já passou por lá (em 2004, pela Jordan) com maus resultados. As segundas chances, numa competição de elite como esta, são infinitamente raras. E também tens outro factor: a temporada tem agora quase 20 corridas, e não há mortes na Formula 1. O Jenson Button, com quase 29 anos, tem mais de cem corridas no activo. Hà 35 anos atrás, quem teria isso? Na altura, com metade das corridas que há hoje, se estivesses vivo ao fim de dez temporadas, era porque tinhas a “estrelinha da sorte” e eras um piloto regular, e não um “louco demoníaco”, porque esses acabavam mortos na terceira corrida…



  1. Vamos falar de crise agora. A Honda já deu adeus a F1 no início dessa temporada e recentemente surgiram fortes boatos de que a Renault poderia ser a próxima a sair, em 2010. Já a Williams se salvou graças ao corte de custos imposto pela FIA. O que esperar da F1 em um futuro próximo, com toda essa crise? Pode haver uma debandada das montadoras?

Estou a escrever isto no dia em que a seguradora holandesa ING, que está a patrocinar a Renault, e a também holandesa Phillips, que está na Williams, apresentaram prejuízos astronómicos. A ING já disse que vai reduzir o patrocinio na Formula 1 em 40 por cento. Eu li hoje uma declaração do presidente do Banco Central Alemão a dizer que “se calhar, ainda não batemos no fundo”. Se calhar, na Formula 1, passa-se a mesma coisa. Ainda não batemos no fundo. A Williams sobrevive, mas mal. Na Renault, o Carlos Ghosn (que não gosta de automobilismo), já deve ter dito ao Briatore algo do género “ou ganham, ou vamos embora”, e na ex-Honda, não há novidades. Se a Renault extinguir o seu departamento de competição, não há GP2, não há WSR, não há Formula Renault: é toda uma categoria de competições de acesso que fica comprometida. E a Williams está a construir os chassis para a nova Formula 2. Estamos perigosamente perto do abismo, infelizmente. E acho que das duas uma: ou há revolução ou é o fim.


  1. Ainda sobre a crise, como você vê ess a drástica redução de custos, com o termino dos testes privados, a possibilidade de ser adotado um “motor-padrão”, igual para todas as equipes e outras medidas?

Já respondi em parte lá em cima, e reforço: é a medida necessária agora. Não faz sentido nenhum que uma equipa, como a Toyota, gastar 500 milhões de euros por ano para tirar meio segundo por volta. E não ganhou nenhuma corrida! A Peugeot e a Audi, na Le Mans Series, gastaram cerca de 25 milhões de euros, cada um, a construir os seus chassis. E estes vão durar três, quatro anos. Porque é que a FOTA, por exemplo, não faz uma moratória a dizer “mantemos os mesmos chassis por dois/três anos”? Já viste o que poupavam em dinheiro? Até podiam vencer alguns a privados, e saiam a ganhar.


  1. Por falar em crise e Honda, você ainda acredita que alguém possa comprar a equipe ainda este ano?

Fala-se agora num “management buyout”, ou seja, o Nick Fry e o Ross Brawn levavam o barco a bom porto por uns tempos, com algum apoio da própria Honda, até encontraram um comprador. Uma coisa é certa: o Brawn dizia que tinha novidades para o Ano Novo, e estamos no final de Janeiro. Este silencio é ensurdecedor, se queres que te diga…


  1. Bernie Ecclestone levantou a possibi lidade de que as equipes mais ricas possam ter um terceiro carro ainda nesta temporada, caso não se concretize a compra da Honda. Isso vai meio que contra a política de cortes. Qual sua opinião sobre isso?

Se calhar pode ser uma inevitabilidade. E não custa assim tão caro. São mais uns milhões… mas se calhar, as equipas vão querer uma compensação, do género abolir ou adiar o KERS. Uma coisa é certa: este defeso está a ser um dos mais incertos de que há memória.


  1. Após um pouco mais de três décadas, Ron Dennis resolveu deixar o comando da McLaren nas mãos de Martin Whitmarsh, assim como no ano passado Jean Todt deixou o comando da Ferrari para Stefano Domenicali. A Ferrari sentiu muito a falta de Todt e errou bastante no ano, o que culminou com a perda do título de pilotos para a McLaren. Os ingleses podem ter nesse ano a mesma dificuldade que os italianos tiveram em 2008?

Não necessariamente. Martin Withmarsh está na equipa há muitos anos. É o braço direito do Ron Dennis, e o próprio “Tio” Ron não vai andar muito longe dali, pois vai fazer “trabalho de escritório”. Nâo se abandonam 40 anos de pista de um dia para o outro. Olha o Bernie Eccelstone. Já disse que só sai da Formula 1 depois de morto… são pessoas que viveram toda a sua vida nisto. Quanto à temporada de 2009, vai ser uma transição suave, e este ano continuarão a lutar pelo título.


  1. Para finalizar, temos dois brasileiros confirmados no grid em 2009. O que esperar de Felipe Massa, atual vice campeão e de Nelsinho Piquet?

Do Felipe, espero que lute pelo título, contra Lewis Hamilton, Kimi Raikonnen, Fernando Alonso, Robert Kubica… se conseguir ser campeão, optimo. Ficaria contente por saber que Fittipaldi, Piquet e Senna tenham um digno sucessor. Cresceu muito em 2008, que continue assim em 2009. Quanto ao Nelson Piquet Jr., tem uma grande sombra chamada Fernando Alonso. E eventualmente o Briatore, por uma questão de sobrevivência, vai concentrar todas as energias no espanhol, para que lute pelo tri, e o Piquet seja um “actor secundário”. Prevejo que “sofra” mais um pouco este ano, mas se a Renault ficar em 2010, e o Alonso for para a Ferrari, pode ser que recolha os frutos da paciência. Tem é que ser paciente, aprender com os erros e aproveitar as oportunidades. Foi assim que o seu pai saiu da sombra do Niki Lauda na Brabham…



Veja as entrevistas anteriores

04/02/2009 -
Priscila Bar - Blog Guard-Rail
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About Diego Maulana

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1 comentários:

Speeder76 disse...

Diego, já fiz um link lá no blog para que possam ler aqui a tua entrevista. Pensava que ias escolher a outra foto, mas pronto, essa também serve, pois esta semana o blog faz anos!... LOL

Já agora, decidi condecorar-te pelos bons serviços feitos à Blogosfera. E pelo facto de me teres entrevistado. Espero que gostes, mas por favor, espalha-o a quem de direito, menos a mim! Já a terceira vez que recebo este selo...


Eis o link: http://continental-circus.blogspot.com/2009/02/acontece-sermos-premiados-parte-iv.html