Hoje é quarta feira e como vem sendo nas últimas duas semanas, é dia da sessão "Expectativas 2009". E hoje o convidado é o amigo Fábio Andrade, do blog De Olho na F1.
O Fábio foi um dos primeiros blogueiros que eu conheci na blogosfera. No auge de seus 20 anos, ele mostra muito bom humor e uma visão muito ampla sobre F1. E podemos peceber isso lendo seus ótimos textos no blog. Ele também é um cara muito batalhador e que pretende cursar jornalismo e está estudando muito para realizar esse sonho. E tenha certeza de que todos que acompanham seu trabalho estão torcendo por isso.
Vamos à entrevista então.
- O que esperar, de uma maneira geral, da temporada 2009 da F1, com essas novas medidas como: as mudanças aerodinâmicas, a volta do pneus slick, a estréia do KERS e o período de três corridas que os motores deverão durar? Podemos esperar um ano mais competitivo?
Essa é uma pergunta que está sem resposta, pelo menos temporariamente. Acho que a restrição da aerodinâmica era algo muito desejado por todos os amantes do esporte, mas não sei se ela foi conduzida da forma mais apropriada. Ainda mais levando em consideração que os slicks voltaram, portanto, a aderência aerodinâmica que foi perdida será compensada com o ganho do apoio mecânico.
O KERS, pra mim, foi das maiores baboseiras que o Mosley já conseguiu em todo o seu mandato na FIA. Não me parece certo se esse bendito dispositivo terá mesmo algum efeito prático. Aliás, não há nem certeza sobre a real adesão das equipes ao tal KERS, já que muitos times não tiveram sucesso em suas primeiras experiências com o sistema. Pra mim o KERS só serviu para fazer as equipes gastarem mais dinheiro. É um dispositivo extremamente artificial e que não adiciona nada em termos de dificuldade de pilotagem para os pilotos, algo que seria muito mais interessante.
A durabilidade dos motores, essa sim pode desequilibrar o campeonato. Acho que a exigência de que eles durem 3 corridas vai resultar em muitas quebras e em mais oportunidades de pontuação para as equipes pequenas e médias. Mas também não sei se concordo com esse método. Acho que os motores altamente duráveis, como vimos em 2008, são adoráveis. Sou contra a idéia de que a volta do alto índice de quebras seja louvada porque aumentará a emoção. Creio justamente no contrário: a durabilidade dos motores é que deveria proporcionar mais chances de disputa na pista.
- A BMW evoluiu bastante nos últimos anos e já incomoda Ferrari e McLaren. Já a Renault parece ter encontrado novamente o caminho para se fazer bons carros. Qual dessas duas equipes tem mais chances de surpreender, caso o equilíbrio de forças se confirme? Podemos esperar também uma Toyota e os carros da Red Bull mais competitivos?
Se todas a mudanças no regulamento surtirem o efeito desejado, que é o do equilíbrio entre as equipes, acho que BMW, e Renault têm mais chances de surpreender graças ao material humano que ambas dispõem. O Kubica e o Alonso são caras de talento vigoroso. Com um bom equipamento nas mãos são capazes de fazer maravilhas. O Alonso, inclusive, já deixou isso claro em 2005 e 2006.
Talvez alguém sinta falta do Vettel entre minhas citações, mas acho que o garoto ainda é muito novo. Precisa de um pouco de estrada para estar entre os grandes do atual grid, apesar de ser, inegavelmente, a maior revelação de 2008.
- A Force Índia, que não pontuou no ano passado, pode brigar por seus primeiros pontos em 2009, agora com a ajuda da Mercedes?
Acho improvável a curto prazo, mas não impossível daqui a 2 ou 3 anos.
- A briga interna da Ferrari promete ser intensa. Quem deverá se sair melhor: Massa ou Raikkönen?
Imprevisível. O Felipe já demonstrou estar na sua melhor forma. Ele cresceu profissional e psicologicamente e goza de status muito alto em Maranello. Até por se apropriar de uma fórmula muito usada pelo Schumacher, que é a de sempre agir em equipe. Se você reparar, o Massa passou a utilizar o expediente do Schumacher: vitórias são construídas em equipe, derrotas, também. O caso da mangueirada de Cingapura deixou isso claro. Felipe também evita reclamar ou discutir problemas internos em público. Em Cingapura, ele tinha todo o “direito” de sair do carro cuspindo fogo ao final da corrida. Mas não, ele preferiu abraçar o tal cara que fez a cagada e conversar calmamente, tal como o Michael. Isso cria uma empatia forte com a equipe, solidifica a imagem do Felipe entre a italianada.
O Raikkonen é um cara que não pode ser desconsiderado. Muita gente não acreditava na adaptação dele dentro da Ferrari em 2007 e ele simplesmente foi o campeão. Só que o Kimi é um cara que tem estalos. Alterna anos bons com temporadas desastrosas. O curioso é que ele vai muito bem em anos ímpares, como 2009. Desde que ele chegou à F-1, em 2002, o Kimi tem brigado pelo título em anos ímpares (2003, 2005, 2007). Para os supersticiosos, é algo a temer.
- Em 2009, Lewis Hamilton será mais ou menos pressionado do que em 2008?
Acho que a pressão será a pressão natural a qual todos os pilotos de ponta estão submetidos. O título tirou uma certa obrigação, um peso das costas dele. Acho que o veremos mais relaxado em 2009.
- Algum piloto já sai na frente na briga pelo título mundial?
Aparentemente não, e é até difícil fazer qualquer previsão, porque os testes não nos disseram muita coisa.
Vantagem, por hora, só se for a pscológica. Acho que nesse qu
esito Massa e Hamilton são os mais fortalecidos por tudo o que aconteceu no ano passado.
- A F1 está ficando cada vez mais jovem. Lewis Hamilton com duas temporadas e 23 anos conquistou um vice campeonato e um título. Fernando Alonso, no auge de seus 25 anos já era bicampeão. Sebastian Vettel venceu pela primeira vez aos 21 anos. E agora Sébastien Buemi estreará aos 20, fora outros pilotos jovens como Nelsinho Piquet, Adrian Sutil, Robert Kubica, Nico Rosberg e Heikki Kovalainen, que se mostram competitivos. Na sua opinião, qual o principal fator para o sucesso desses jovens na F1 atual, visto que até pouco tempo atrás a maioria dos um piloto de ponta só tinha a chance de conquistar seu primeiro título perto da casa dos 30 anos?
Acho que o fenômeno que determinou essa precocidade foi a mudança sofrida pelo esporte de uma maneira geral nas últimas décadas. É algo que, no meu modo de ver,
depende menos do real talento dos pilotos e mais da conjuntura da época.
Quando a coisa passa a ser um negócio, você tem de estar atrás dos grandes talentos o tempo todo para botá-los em ação o quanto antes ou assim que um piloto mais velho já der sinais de falta de resultados. Nesse contexto, quanto mais cedo você firmar um compromisso com um futuro piloto de talento, mais você tem garantias de estar na frente dos rivais.
É algo que se generalizou no esporte. O futebol está aí para provar.
- Vamos falar de crise agora. A Honda já deu adeus a F1 no início dessa temporada e recentemente surgiram fortes boatos de que a Renault poderia ser a próxima a sair, em 2010. Já a Williams se salvou graças ao corte de custos imposto pela FIA. O que esperar da F1 em um futuro próximo, com toda essa crise? Pode haver uma debandada das montadoras?
Essa é outras daquelas questões imprevisíveis. Eu torço para que os impactos da crise sejam resolvidos com o menor estrago possível, apesar de achar que as conseqüências serão graves. Sinceramente, acho que situação estará bastante nebulosa em 2009.
- Ainda sobre a crise, como você vê essa drástica redução de custos, com o termino dos testes privados, a possibilidade de ser adotado um “motor-padrão”, igual para todas as equipes e outras medidas?
Acho que seria mais inteligente adotar um limite de gastos e deixar que cada equipe assuma a responsabilidade sobre como direcionar seus gastos. Se é inevitável brecar a gastança, que seja desse modo. Aí cada equipe decide se vai priorizar os testes, ou o desenvolvimento de uma parte específica do carro e etc. Impedir que as equipes testem longe dos curiosos é como proibir um técnico de futebol de fazer um treino longe das câmeras. Odioso. Treinar longe da vista dos rivais faz sim parte do esporte, afinal, é na intimidade que a gente conhece a si próprio.
Motor-padrão pra mim não faz sentido. Ou existe alguma possibilidade de levarmos a sério o fato de uma Ferrari, uma McLaren e uma Williams correrem com o mesmo equipamento?
- Por falar em crise e Honda, você ainda acredita que alguém possa comprar a equipe ainda este ano?
Torço para que sim, mas no meio de uma crise dessas, acho improvável.
- Bernie Ecclestone levantou a possibilidade de que as equipes mais ricas possam ter um terceiro carro ainda nesta temporada, caso não se concretize a compra da Honda. Isso vai meio que contra a política de cortes. Qual sua opinião sobre isso?
Não sei como fariam isso. Algumas equipes estão encontrando dificuldades para manter 2 carros no grid, imagine só manter 3. E na verdade, na verdade, muita coisa levantada nessa época do ano encontra-se sob o capô da hipótese. Mas acho que se a idéia passar e houver viabilidade, vai ser divertido. Deve aumentar a disputa.
- Após um pouco mais de três décadas, Ron Dennis resolveu deixar o comando da McLaren nas mãos de Martin Whitmarsh, assim como no ano passado Jean Todt deixou o comando da Ferrari para Stefano Domenicali. A Ferrari sentiu muito a falta de Todt e errou bastante no ano, o que culminou com a perda do título de pilotos para a McLaren. Os ingleses podem ter nesse ano a mesma dificuldade que os italianos tiveram em 2008?
Creio que não. O Withmarsh ocupa a posição de braço direito do Dennis há muito tempo. Imagino que ele esteja devidamente preparado para guiar um time grande como a McLaren. O Withmarsh parece ter o estofo que o Domenicali não tinha no início de 2008.
- Para finalizar, temos dois brasileiros confirmados no grid em 2009. O que esperar de Felipe Massa, atual vice campeão e de Nelsinho Piquet?
Nelsinho já entra pressionado: ou mostra serviço, ou rala. A F-1 não costuma dar uma segunda chance e acho que, no caso ele, o sobrenome ajudou a continuar. E mostrar resultados com um companheiro como o Alonso vai ser barra.
O Felipe deve ser o mesmo guerreiro de 2008. Se a Ferrari continuar entre as equipes de ponta, é, logicamente, candidato forte ao título.
Veja as entrevistas anteriores
11/02/2009 - Paulo Speeder - Continental Circus
04/02/2009 - Priscila Bar - Blog Guard Rail
1 comentários:
Diego, muito legal a entrevista com o Fábio. Meus parabéns!!!
Estou visitando seu blog pela primeira vez, show de bola. Depois dê uma passada lá no Loucos por F-1 para fazer uma visita.
Abraços!
Leandro Montianele
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